terça-feira, 4 de novembro de 2014

Deuses, Moradia e "Como perder a vontade de viver em 6 passos"


Receita para perder a vontade de viver em 6 passos

1) Um Ministro dá auxílio moradia pra todo mundo (do judiciário claro) http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/ministro-do-stf-da-auxilio-moradia-a-todo-o-judiciario

"Na ocasião, foi estabelecido pagamento no valor a que têm direito os ministros do Supremo, que é de R$ 4.377,73."


2) CNJ regulamenta o absurdo: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/10/cnj-aprova-auxilio-moradia-de-r-43-mil-para-juizes.html

"Com a decisão do CNJ e as liminares concedidas por Fux, os outros 6,5 mil magistrados de todas as categorias passam a ter direito ao auxílio. O impacto mensal no Orçamento do Judiciário ao estender o benefício será de, pelo menos, R$ 28,45 milhões, de acordo com a associação de magistrados."


3) Aí os Procuradores do Ministério Público acham massa e querem Auxílio Moradia também: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/10/apos-cnj-conselho-do-mp-aprova-auxilio-moradia-para-procuradores.html

"Atualmente, há 12.262 integrantes do Ministério Público e 16.429 juízes. Portanto, se for considerado o valor de R$ 4,37 mil, o custo da concessão de auxílio-moradia será de aproximadamente R$ 125,5 milhões por mês."


4) Aí esse  Excelentíssimo Senhor Presidente do TJSP fala o seguinte:

https://www.youtube.com/watch?v=AbrQc22CJE0

"O auxílio-moradia foi um disfarce para aumentar um pouquinho, e até para fazer com que o juiz fique um pouco mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC, e etc. A população precisa entender isso. No momento em que ele perceber com o que o juiz trabalha, eles verão que a remuneração do juiz não é a que vai fazer falta. Se a Justiça funcionar, vale à pena pagar bem o juiz”


5) Lembrando que são os mesmos Ministros do STF que querem aumentar seus próprios salários: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/08/ministros-do-stf-aprovam-aumentar-proprios-salarios-para-r-359-mil.html

"Na proposta aprovada pelos ministros, é informado que o reajuste terá impacto de R$ 2,5 milhões só para o STF e de R$ 646,3 milhões para as demais instâncias das demais instâcias do Judiciário da União."


6) E aí uma agente do DETRAN do Rio é condenada por ter dito que um cara sem carteira parado numa blitz "era juiz, mas não era Deus".

http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/agente-que-parou-juiz-em-blitz-da-lei-seca-e-condenada-a-indeniza-lo-em-r-5-mil/

“Dessa maneira, em defesa da própria função pública que desempenha, nada mais restou ao magistrado, a não ser determinar a prisão da recorrente, que desafiou a própria magistratura e tudo o que ela representa”, diz a sentença. “Além disso, o fato de recorrido se identificar como Juiz de Direito não caracteriza a chamada “carteirada”, conforme alega a apelante.”

Sirva com aperitivos:

- Brasil é um dos países mais desiguais do mundo
- Salário mínimo (que tá crescendo muito) vai ser de R$ 788,06

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A favor da Família



Me diz. Quantas famílias já foram salvas por esse pessoal que defende a família?
Pergunto genuinamente. Só pra saber. Sem entrar no debate sobre qual modelo de família que esse pessoal defende. To falando aqui das famílias tradicionais mesmo: papai, mamãe e filhinhos.
Me pergunto, por exemplo, o que que esses políticos que defendem a tal família fazem pra proteger quem tá passando por um divórcio? Assim, vamos combinar que divórcio não é desejável. Quem vai ser a favor do divórcio? "Vai se divorciar? Massa! Mandou bem!" Na maioria das vezes a dissolução de um casamento acontece como última opção. É a derrota de um projeto de vida e deixa marcas não só nos cônjuges, mas nos filhos também.
Há diversos estudos que associam a dissolução do casamento a problemas nas vidas das crianças. Em estudos realizados nos EUA, descobriu-se que crianças de lares divorciados tem maior probabilidade de serem adultos pobres, de possuírem um desempenho escolar inferior e até de terem mais problemas de saúde.

Só que por algum motivo quem usa a bandeira de "defender a família" gasta seu tempo e capital político para coisas como empatar o casamento gay. Desafio qualquer candidato a mostrar quantas famílias no Brasil já foram salvas por causa da atuação dessas pessoas. Dá até pra desconfiar e achar que na verdade é só uma bandeira eleitoreira e que na verdade eles querem o poder pelo poder.
A família e o casamento não são uma coisa só. A família continua, mesmo quando o casamento acaba. Sendo assim, quer defender a família?
Cadê os projetos pra cuidar da violência doméstica contra a mulher? Ou sobre a violência sexual praticada dentro de casa?
Cadê seus projetos para aconselhamento e acompanhamento psicológico durante processos de separação?
Cadê o suporte para a família (mãe) que tem que cuidar dos filhos sozinha? Cadê as creches?

Querido leitor (e eleitor). Eu também sou a favor da família. No meu caso sou a favor de um conceito de família bem amplo, que inclusive abrange casais homoafetivos. Mas mesmo se você não compartilhar da minha opinião, eu acho que se você quiser defender a família tradicional, você pode ter uma estratégia melhor do que votar nos que usualmente levantam essa bandeira.
Consciência nesse domingo! E boas eleições!

domingo, 28 de setembro de 2014

Uma piada de mau gosto




No debate da Record, neste domingo, o candidato à Presidência da República Levy Fidelix deixou de ser o candidato cômico, o que falava em bilhões e trilhões, tinha ideia fixa no aerotrem e um bigode ridículo. 
É que geralmente esse candidato, junto com o Pastor Everaldo, é o mais despreparado em suas respostas. É comum que ele não encontre material nem por um minuto e meio, mesmo em assuntos complexos como segurança pública ou sustentabilidade, e fique divagando.
É aí que a surpresa vem. 
Ao ser questionado pela candidata Luciana Genro (PSOL) sobre sua posição quanto ao casamento civil homoafetivo, Levy foi eloquente e conseguiu horrorizar uma nação em pouco tempo. Levy Fildelix mostrou que as ideias que disse não eram improvisadas. Era um discurso concebido ao longo de uma vida. Daqueles que só é falado em um círculo íntimo de amigos, numa mesa de bar, com pessoas para balançarem a cabeça e darem apoio. 
Quando o candidato falou que "aparelho excretor não reproduz", ele não estava fazendo propaganda de uma ideia nova, como sempre faz com seu anedótico aerotrem. O candidato repetiu o que está na cabeça de muitos
Quando ele associou automaticamente homossexualidade a pedofilia, ele não estava tentando encher linguiça sobre um assunto que desconhece, como geralmente faz quando se encontra em face de uma pergunta mais complexa. Ele apelou pro medo, como a gente vê diariamente em muitas pessoas.
Quando o candidato convidou a maioria a se juntar e lutar contra a maioria, ele não precisou inventar cifras e falar em milhões ou bilhões. Ele acertou que existe uma minoria e uma maioria. E tentou dividir a sociedade brasileira, como alguns pastores e políticos têm feito, num verdadeiro discurso de ódio.
É esse o preconceito velado que temos muito no Brasil. É um preconceito escondido, mas sempre presente, que de tempos em tempos dá as caras em sua forma explícita, num assassinato ou num espancamento, mas que no dia-a-dia fica guardadinho, só esperando pra falar dos privilégios que os gays querem, pra chamar o colega de bicha, pra condenar a falta de vergonha da nossa sociedade, pra bater no travesti, pra matar o viado, etc.
Candidato Levy Fidelix, o senhor mostrou sua verdadeira face, a do preconceito velado, que convive conosco diariamente. O senhor não é mais o engraçadinho, o Super Mário, o "cara do aerotrem". O senhor continua uma piada, sim. Mas de muito mau gosto.