terça-feira, 4 de novembro de 2014

Deuses, Moradia e "Como perder a vontade de viver em 6 passos"


Receita para perder a vontade de viver em 6 passos

1) Um Ministro dá auxílio moradia pra todo mundo (do judiciário claro) http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/ministro-do-stf-da-auxilio-moradia-a-todo-o-judiciario

"Na ocasião, foi estabelecido pagamento no valor a que têm direito os ministros do Supremo, que é de R$ 4.377,73."


2) CNJ regulamenta o absurdo: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/10/cnj-aprova-auxilio-moradia-de-r-43-mil-para-juizes.html

"Com a decisão do CNJ e as liminares concedidas por Fux, os outros 6,5 mil magistrados de todas as categorias passam a ter direito ao auxílio. O impacto mensal no Orçamento do Judiciário ao estender o benefício será de, pelo menos, R$ 28,45 milhões, de acordo com a associação de magistrados."


3) Aí os Procuradores do Ministério Público acham massa e querem Auxílio Moradia também: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/10/apos-cnj-conselho-do-mp-aprova-auxilio-moradia-para-procuradores.html

"Atualmente, há 12.262 integrantes do Ministério Público e 16.429 juízes. Portanto, se for considerado o valor de R$ 4,37 mil, o custo da concessão de auxílio-moradia será de aproximadamente R$ 125,5 milhões por mês."


4) Aí esse  Excelentíssimo Senhor Presidente do TJSP fala o seguinte:

https://www.youtube.com/watch?v=AbrQc22CJE0

"O auxílio-moradia foi um disfarce para aumentar um pouquinho, e até para fazer com que o juiz fique um pouco mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC, e etc. A população precisa entender isso. No momento em que ele perceber com o que o juiz trabalha, eles verão que a remuneração do juiz não é a que vai fazer falta. Se a Justiça funcionar, vale à pena pagar bem o juiz”


5) Lembrando que são os mesmos Ministros do STF que querem aumentar seus próprios salários: http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/08/ministros-do-stf-aprovam-aumentar-proprios-salarios-para-r-359-mil.html

"Na proposta aprovada pelos ministros, é informado que o reajuste terá impacto de R$ 2,5 milhões só para o STF e de R$ 646,3 milhões para as demais instâncias das demais instâcias do Judiciário da União."


6) E aí uma agente do DETRAN do Rio é condenada por ter dito que um cara sem carteira parado numa blitz "era juiz, mas não era Deus".

http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/agente-que-parou-juiz-em-blitz-da-lei-seca-e-condenada-a-indeniza-lo-em-r-5-mil/

“Dessa maneira, em defesa da própria função pública que desempenha, nada mais restou ao magistrado, a não ser determinar a prisão da recorrente, que desafiou a própria magistratura e tudo o que ela representa”, diz a sentença. “Além disso, o fato de recorrido se identificar como Juiz de Direito não caracteriza a chamada “carteirada”, conforme alega a apelante.”

Sirva com aperitivos:

- Brasil é um dos países mais desiguais do mundo
- Salário mínimo (que tá crescendo muito) vai ser de R$ 788,06

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A favor da Família



Me diz. Quantas famílias já foram salvas por esse pessoal que defende a família?
Pergunto genuinamente. Só pra saber. Sem entrar no debate sobre qual modelo de família que esse pessoal defende. To falando aqui das famílias tradicionais mesmo: papai, mamãe e filhinhos.
Me pergunto, por exemplo, o que que esses políticos que defendem a tal família fazem pra proteger quem tá passando por um divórcio? Assim, vamos combinar que divórcio não é desejável. Quem vai ser a favor do divórcio? "Vai se divorciar? Massa! Mandou bem!" Na maioria das vezes a dissolução de um casamento acontece como última opção. É a derrota de um projeto de vida e deixa marcas não só nos cônjuges, mas nos filhos também.
Há diversos estudos que associam a dissolução do casamento a problemas nas vidas das crianças. Em estudos realizados nos EUA, descobriu-se que crianças de lares divorciados tem maior probabilidade de serem adultos pobres, de possuírem um desempenho escolar inferior e até de terem mais problemas de saúde.

Só que por algum motivo quem usa a bandeira de "defender a família" gasta seu tempo e capital político para coisas como empatar o casamento gay. Desafio qualquer candidato a mostrar quantas famílias no Brasil já foram salvas por causa da atuação dessas pessoas. Dá até pra desconfiar e achar que na verdade é só uma bandeira eleitoreira e que na verdade eles querem o poder pelo poder.
A família e o casamento não são uma coisa só. A família continua, mesmo quando o casamento acaba. Sendo assim, quer defender a família?
Cadê os projetos pra cuidar da violência doméstica contra a mulher? Ou sobre a violência sexual praticada dentro de casa?
Cadê seus projetos para aconselhamento e acompanhamento psicológico durante processos de separação?
Cadê o suporte para a família (mãe) que tem que cuidar dos filhos sozinha? Cadê as creches?

Querido leitor (e eleitor). Eu também sou a favor da família. No meu caso sou a favor de um conceito de família bem amplo, que inclusive abrange casais homoafetivos. Mas mesmo se você não compartilhar da minha opinião, eu acho que se você quiser defender a família tradicional, você pode ter uma estratégia melhor do que votar nos que usualmente levantam essa bandeira.
Consciência nesse domingo! E boas eleições!

domingo, 28 de setembro de 2014

Uma piada de mau gosto




No debate da Record, neste domingo, o candidato à Presidência da República Levy Fidelix deixou de ser o candidato cômico, o que falava em bilhões e trilhões, tinha ideia fixa no aerotrem e um bigode ridículo. 
É que geralmente esse candidato, junto com o Pastor Everaldo, é o mais despreparado em suas respostas. É comum que ele não encontre material nem por um minuto e meio, mesmo em assuntos complexos como segurança pública ou sustentabilidade, e fique divagando.
É aí que a surpresa vem. 
Ao ser questionado pela candidata Luciana Genro (PSOL) sobre sua posição quanto ao casamento civil homoafetivo, Levy foi eloquente e conseguiu horrorizar uma nação em pouco tempo. Levy Fildelix mostrou que as ideias que disse não eram improvisadas. Era um discurso concebido ao longo de uma vida. Daqueles que só é falado em um círculo íntimo de amigos, numa mesa de bar, com pessoas para balançarem a cabeça e darem apoio. 
Quando o candidato falou que "aparelho excretor não reproduz", ele não estava fazendo propaganda de uma ideia nova, como sempre faz com seu anedótico aerotrem. O candidato repetiu o que está na cabeça de muitos
Quando ele associou automaticamente homossexualidade a pedofilia, ele não estava tentando encher linguiça sobre um assunto que desconhece, como geralmente faz quando se encontra em face de uma pergunta mais complexa. Ele apelou pro medo, como a gente vê diariamente em muitas pessoas.
Quando o candidato convidou a maioria a se juntar e lutar contra a maioria, ele não precisou inventar cifras e falar em milhões ou bilhões. Ele acertou que existe uma minoria e uma maioria. E tentou dividir a sociedade brasileira, como alguns pastores e políticos têm feito, num verdadeiro discurso de ódio.
É esse o preconceito velado que temos muito no Brasil. É um preconceito escondido, mas sempre presente, que de tempos em tempos dá as caras em sua forma explícita, num assassinato ou num espancamento, mas que no dia-a-dia fica guardadinho, só esperando pra falar dos privilégios que os gays querem, pra chamar o colega de bicha, pra condenar a falta de vergonha da nossa sociedade, pra bater no travesti, pra matar o viado, etc.
Candidato Levy Fidelix, o senhor mostrou sua verdadeira face, a do preconceito velado, que convive conosco diariamente. O senhor não é mais o engraçadinho, o Super Mário, o "cara do aerotrem". O senhor continua uma piada, sim. Mas de muito mau gosto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quem?

"Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, além de centro de governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país." 
Lúcio Costa







Estou em meu quarto, recebendo o vento úmido que vem pela janela. 
Me faz lembrar de uma das frases que uso quando me pedem pra me definir. 
Quem é você? 
Eu sou Gustavo e gosto do cheiro de terra molhada. 
Do cheiro da terra molhada que vem depois da seca em Brasília. 
Que invade meu quarto, misturado com o barulho dos carros passando na EPIA, perturbando o silêncio da madrugada. 
Quando cheguei em Brasília, depois de dois anos morando fora, fiquei confuso. Tinha me esquecido de como Brasília era diferente, especial. Seca e árida. 
A seca me sufocou, me fez espirrar. Fez meu nariz sangrar e ensaiou me presentear de volta minha asma. 
Sentia o peso imenso dessa cidade, de sua solidão, seu afastamento.
É que saía às ruas buscando encontrar o que ela não poderia me oferecer.
É que procurava algo que não havia perdido aqui.
É que cada momento da nossa vida tem um ritmo. 
E eu forçava meus passos em uma melodia diferente.
Mas agora... Agora estou em meu quarto, recebendo o vento úmido que entra pela janela.
Quem é você, Gustavo?

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

"Vamos acabar com essa praga"



Um rapaz de 18 anos foi morto na última terça-feira, dia 9 de setembro. O nome dele era João Donati e ele era gay. Tudo leva a crer que o crime foi motivado pelo preconceito contra a orientação sexual do menino. 
Eu já comecei a escrever este post umas várias vezes. Escrevo e escrevo, mas não consigo continuar. Apago e recomeço. Não seu qual seria o motivo disso, já que geralmente não tenho dificuldades pra escrever.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, "a suspeita de homofobia como motivo do crime seria pela folha cruel como ele morreu e porque nada foi roubado - a carteira estava com Donati, com dinheiro dentro".
Homofobia... Homofóbicos que quebraram as pernas do garoto. Homofóbicos que quebraram a vida desse garoto. Homofóbicos que quebraram pra sempre a família desse garoto.
Me pergunto por que só consigo escrever com muito custo sobre esse tema. 
Talvez seja por me identificar com ele. Ele era gay como eu. Cabelos escuros e pele parecida. Não morava tão longe de Brasília...
Talvez seja pela crueldade e pelo recado deixado na boca dele. "Vamos acabar com essa praga" eles disseram... Essa "praga" sou eu. Somos todos nós que ousamos ser gays, no entender dessas pessoas. Pra esses assassinos, meu destino seria estar no IML agora. Morto. Asfixiado, longe de meus amigos e de minha família. Morto. Com braços e pernas quebrados.
Mas talvez tenha sido por que essa semana eu fui a dois eventos da semana de consciência LGBT da minha cidade. Fui a um sarau e fui à parada gay de Brasília. Dois momentos lúdicos, que serviam pra que nós tivéssemos diversão, cultura, e pra celebrar a alegria de estarmos juntos e vivos e sermos nós mesmos. Nos dois momentos houve pessoas que tomaram 5, 10 minutos de seu tempo pra pegar o microfone e falar sobre homofobia e transfobia. Pra conscientizar todos nós. Eles comentaram sobre como esse perigo era real. 
E minha reação foi muito imatura. Eu reclamei com meus amigos sobre como esses comentários estragavam o clima do momento. Sobre como as pessoas que falavam sobre aceitação, união, luta, estavam empatando a diversão.
E agora, como é que fica a diversão? Como é que fica a alegria? 

Vamos, juntos, "acabar com essa praga" chamada homofobia. No dia a dia, nas manifestações, nas eleições, em nossos trabalhos, igrejas e famílias. O trabalho é árduo e muitas vezes empata nossa diversão e nosso conforto. Mas é o preço que pagaremos pra sermos respeitados. Aqui está uma lista de manifestações que acontecerão em todo o Brasil, motivadas ou não por este crime específico

São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2014

Belo Horizonte, sábado, 13 de setembro de 2014
Taguatinga, domingo, 14 de setembro de 2014 (9a Parada Gay de Taguatinga)
Recife, domingo, 21 de setembro de 2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sobre a feiúra de Marina Silva



Uma vez, em 2012 na Rio+20, conversava com um grande advogado constitucionalista e ambientalista Paquistanês. Mais uma dessas oportunidades que a vida nos dá. Estávamos conversando sobre diversos assuntos e calhou de falarmos sobre Marina Silva. E ele me contou sobre a primeira vez que a viu, quando ela era Ministra do Meio Ambiente numa reunião da ONU. Ele não sabia quem ela era, mas quando ela entrou no ambiente todos prestaram atenção. Todos, de alguma forma, reconheceram que ela era importante. Ela exalava um respeito que vinha de dentro. Um respeito que vinha de sua autossegurança e até de sua fragilidade. No instante que ele a olhou, sabia que ela era alguém especial. Ele me disse que somos sortudos por ter alguém como ela em nosso país. Um país precisa de figuras assim.
Eu nunca tinha atentado para a feiúra de Marina Silva. Nunca foi algo que me chamou atenção, talvez até por que para mim ela é uma mulher linda. Mas Gustavo! Como assim "linda"? Você está exagerando em um sentido pra provar seu ponto de vista, né? Ou então está falando que ela é linda por dentro? No mínimo!
Não. Pra mim, sua aparência agrada aos meus olhos. Gosto de sua cor e de seu porte. A estética de suas roupas é impecável e seu cabelo em coque, apesar de não ser super estiloso, casa tão bem com o conjunto que realmente não consigo encontrar defeito algum. Suas roupas e suas jóias lindas só melhoraram pra mim depois que descobri que ela também é artesã e faz muitos de seus colares.
Quando escuto alguém falando sobre Marina Silva não ter porte para representar o Brasil, respondo que nesse quesito ela tem porte até de sobra. Isso vem de sua originalidade (alguns podem até chamar de brasilidade), sua biografia, até de suas roupas e sua cor. Ela tem cara de empregada? E empregada lá tem cara? Ela tem olheiras? Eu sou suspeito pra falar, mas acho olheiras lindas. Ela tem aquela cor incerta que não é nem de índio nem preta? Pois tenho uma novidade pra você, é a cor do seu país. E a maioria dos brancos daqui só são considerados brancos aqui mesmo. Percebi isso quando cheguei na Europa e vi que não era branco nem aqui nem na China. Em questão de porte, estamos bem servidos.
Nunca vi pessoas analisarem a beleza de Lula, Sarney ou FHC. A presidente Dilma tem que lidar com isso sempre, assim como Cristina Kirchner e outras mulheres em situação de poder. Podemos fazer uma análise do nosso machismo aqui. Mas o importante não é gostar ou não da aparência de uma candidata a presidência e sim suas posições políticas, programas de governo, base aliada, projetos econômicos e sociais...
Espero que, se você ainda estiver lendo isso, reflita sobre isso e comece a discutir o que realmente importa: o que Marina Silva ou Dilma ou Aécio representa para os próximos 4 anos de Brasil.
Mas pra mim, quanto à aparência, Marina Silva é Beleza Pura!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

The Storyteller







By Rebeca Sahagun



I remember our first conversation (I always do with special people). He asked – Hey! And you...where are you from?
– 
Mexico, I replied.
We were on the subway, line U6. This happened while waiting for the train. He told me he studied law, now he wanted to try something else. I think public policy was about trying something else, discovering new things.
He did discover that something else, but not at school. Usually important things are not learned in the classroom.
I saw the transformation from Plan B to action, from a blog to a novel, from a hobby to a lifestyle. He is not a lawyer, he is a storyteller. He could talk about academics, a party, a daily routine and make them sound interesting with a beginning, a middle and an end, as storytellers do. Storytellers make words convert into characters, landscapes, fragrances and so on. They have the power to transport you to other perspectives, other lives, other places and other times. It is about playing with the imagination, with the possibilities of other ways, of saying ‘no’ instead of ‘yes’ or vice versa, of having more than one life, more than one death.
As the storyteller is creating the story a process of revelation begins. It starts with wanting to tell your story, then the other version, followed by the third character witness and finally unraveling in a world of no limitations, where one can be a boy living in a farm in the 19th century, a housewife cheating on her husband in some suburb, a painter in the highest peak of his career.
From mouth, to paper, to me, the storyteller was inspiration. Thank you! 


PS: This text is a gift I got from my friend Rebeca Sahagun... It meant a lot to me to know she spent time generating, dreaming and writing those lines. Thank you, Rebeca!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

About Guilt



“What do you claim in your defense?” a strange old man asked him.

Marcus Butner looked around and he couldn't believe it. He wasn’t at home anymore. This weird place didn’t look like anything familiar. It was so quiet and cold… And despite those two guards standing in front of him, he didn’t have any clue of what was going on... Had he heard it right? Was he being accused of something? No… That couldn’t be true… It was just a dream, he knew. Maybe one of the most vivid dreams he ever had. But still, only a dream...

Download the entire story here.





Illustrations by Rubén M .Y.

sábado, 14 de junho de 2014

Os Alquimistas





- To sem abridor de garrafas. Abre a cerveja pra mim?
- Mas é claro! Dois anos aqui me ensinaram pelo menos isso!
Ele pegou a garrafa da mão dela e a abriu usando a sua.
- Aqui. Agora só preciso achar um cantinho pra abrir a minha cerveja... - ele disse, enquanto procurava por qualquer beirada de um muro ou cerca onde pudesse fazer a mágica.
- Pronto, acho que aqui eu consigo...
E ele tentou uma, duas, três vezes até que que a tampa da garrafa finalmente caiu em algum lugar do jardim perto da cerca.
- Vem cá, amigo. Senta. Eu quero aproveitar sua companhia. A gente não tem muito tempo... Prost!
- Prost! - ele respondeu, olhando em seus olhos.
Ele se sentou do lado dela, nos degraus da escada da Casa de Consertos. Eles estavam em Gendarmenmarkt, Berlim. O vento estava frio e o sol já tinha ido embora, apesar de ser só 5 da tarde.
- Nossa, nem acredito que esses dois anos passaram tão rápido! Já é quase Março e logo a gente já vai ter terminado tudo! Todo mundo vai embora de volta pros seus países ou então pra outros lugares... Berlim vai ficar bem vazia - ela disse.
- Não é? O tempo tá passando muito rápido! Eu não me lembro de ser assim quando a gene era criança!
- Pois é! Eu me lembro que demorava pra sempre pra chegar o Natal ou a Páscoa... O meu Adventskalender demorava uma eternidade pra passar!
- Hahaha! Adventskalender... Outra coisa boa que aprendi aqui na Alemanha. Ah, e obrigado por ter me dado um ano passado.
- De nada - ela disse, com um sorriso nos lábios.
Eles tomaram um gole de cerveja.
- E aí? Como foi? Quer falar sobre isso? - ele perguntou.
- Hum... Claro, claro.
- Ok. Sou um ótimo ouvinte - disse, enquanto tomava outro gole de cerveja.
- Então... Ele queria conversar. Queria se explicar, falar de nós dois, falar do nosso futuro...
- Uhum...
- Ele começou me dizendo o quanto me amava e quanto ele queria estar comigo. Me disse que estava arrependido e que ia mudar. Que tudo que eu tinha conversado com ele no passado... Ele finalmente tinha entendido e ia tentar mudar. Que era só eu falar pra ele o que fazer, que ele faria.
- E você?
- Eu.. Eu só escutei. Foi bem difícil, sabe? Eu olhava pra ele... Não é que eu o odeie ou algo assim. Eu ainda gosto dele e quero que ele seja feliz. Não to magoada. Mas o amor que eu sentia... Acabou. Eu disse isso pra ele, mas foi muito difícil. Ele chorou. Eu chorei - ela disse, com lágrimas nos olhos.
- E como você tá se sentindo agora?
- Péssima! Tem essa coisa aqui - ela apontou pro seu coração - que não tá certa. Eu... Eu sinto como se eu estivesse fazendo algo de errado com ele, apesar de saber que não estou - ela começou a chorar - É muito pesado.
- Oh, querida, vem cá, chora não - e ele a trouxe pra perto, abraçando-a - Eu acho que posso te ajudar.
Ele se levantou e estendeu a mão esquerda em sua direção - Vamos? - ela aceitou o convite e se deixou ser levada na direção de um jardim lá perto. O vento estava gelado e ela soltou de sua mão pra proteger suas mão no bolso.
- Ei, aonde você está me levando?
Ele não respondeu. Eles chegaram no meio do jardim, próximo a uma árvore alta, em suas sombras.
- Hummm... Acho que aqui tá bom. Será que alguém consegue ver a gente aqui? - ele perguntou.
- Sei lá... Acho que sim. Mas só se prestarem muita atenção - ela disse, limpando uma lágrima que teimava em cair em sua bochecha - O que você vai me mostrar?
- Aqui, segura isso aqui - ele a entregou sua garrafa e abriu sua mochila.
- Eu to ficando curiosa... - ela disse, tentando parecer mais interessada.
- Rapidinho... Rapidinho... Segura isso pra mim? - disse, enquanto entregava a ela um pacote de biscoitos e uma garrafa vazia de coca-cola - Ai, eu carrego muita coisa comigo! Hahaha... Onde tá? Onde tá? Aqui! Achei! - ele comemorou enquanto tirava de sua mochila uma bolinha - Agora me devolve essa tranqueira toda.
Ele guardou tudo de volta na mochila e pegou sua cerveja de volta.
- Vamos lá, esse é o segredo. Tudo que você tem de fazer é mudar as coisas. Transformá-las. É você que dá o peso pras coisas. Nada é leve ou pesado por si mesmo - disse, enquanto jogava a bolinha pro alto, como se fosse uma bolinha de pingue pongue. Uma bolinha de pingue pongue cinza - se você aprender a controlar, você conseguirá transformar o peso das coisas.
- Ai, tá de brincadeira, né? Você sempre foi engraçadinho! - Ela disse enquanto se levantava e começava a andar de volta - Vamos! Você já me animou. Captei a mensagem. Mas vamos sair do escuro, vem!
- Ei, é verdade! Tá acreditando não? Então pega! - E ele jogou a bolinha a ela.
Ela fez um gesto automático pra pegar a bolinha de pingue pongue. Mas quando ela a alcançou, ela percebeu que a bolinha era muito pesada. Tão pesada que quase a fez perder seu equilíbrio e derrubar sua cerveja.
- Nossa! Do que é feito isso? - ela perguntou ao deixar a bolinha cair no chão - Isso é feito de chumbo?
- Acertou de primeira! Parabéns! Agora volta aqui pra mim. Senta aqui comigo.
Ela pegou a bola e caminhou em sua direção, com olhos incrédulos. Que tipo de brincadeira era aquela? Ela ainda se sentava quando ele começou a explicar.
- É assim que se faz... - ele colocou a bolinha entre eles, no chão - Que nem eu te disse, as vezes a gente não percebe, mas as coisas não são leves ou pesadas por si - ele tomou suas mãos e colocou a bolinha em uma delas - nós que enxergamos as coisas de uma maneira ou de outra e decidimos como elas existirão pra nós - então ele colocou uma de suas mão em cima da mão dela, englobando a bolinha, metade a mão dele, metade a mão dela - eu tenho certeza que você já se perguntou se o seu azul é o mesmo azul que o meu. Se talvez o que eu vejo como azul é o seu vermelho. Todo mundo pensa nessas coisas. Todos se perguntam essas coisas porque está dentro de nós. Temos esse potencial adormecido de criar nosso redor - ele pegou sua outra mão e a colocou no outro lado da bolinha - Quando somos crianças e vemos as coisas pela primeira vez, nós decidimos como elas vão ser pra nós. E se conseguimos decidir quando somos crianças, também conseguimos fazer o mesmo agora. A gente que decide! - ele apertou as mãos dela em volta da bolinha - A gente!
Ela segurava a bolinha e conseguia sentir seu peso.
- Fala sério... Ela continua pesada - ela disse, incrédula.
- Só tenta, vai. Volta... Volta pro seu passado, pra sua infância. Tenta decidir o quão pesado uma bolinha de chumbo realmente é. Só tenta. Acredita em mim.
Ela fechou seus olhos e tentou. Se lembrou de sua infância. De sua mãe a deixando na creche. Do fim de semana em que sua família acampou perto da praia. Ela se lembrou de segurar a mão de seu pai, enquanto andavam num domingo ensolarado... Estavam indo comprar sorvete. Ela conseguiu se lembrar perfeitamente de como gostou de sentir os raios solares em sua pele e especialmente como ela gostou do cheiro que sua pele tinha depois de tomar sol por alguns minutos. Ela se lembrou de vivenciar isso e de gostar pela primeira vez. E ao pensar nessa memória, ali, naquela noite fria de Berlim, ela começou a sentir o sol em sua pele. Ela conseguiu sentir a mão de seu pai em sua mão. Conseguia sentir a mesma segurança que só as crianças conseguem ter, quando estão abertas a tudo e a todos, abertas a provar qualquer coisa que aparecer pela frente. Ela sentiu tudo. Mesmo que apenas por alguns segundos, ela sentiu isso tudo. E então, desse jeito, a bolinha em suas mão se tornou leve, como se fosse uma bolinha de Ping-Pong.
Ela abriu seus olhos e viu seu amigo sorrindo de volta.
- E aí? Conseguiu? - Perguntou esperançoso.
- Sim! - ela disse triunfante - Consegui! - E ela jogou a bola de chumbo pro ar, como se fosse uma bolinha de Ping-Pong - Que máximo! E dá pra fazer com qualquer coisa? - Ela perguntou, enquanto brincava com seu brinquedinho novo.
- Ah, acho que sim... Quase tudo... - ele explicou - Eu acho que tudo pode ser transformado em sua versão light - ele disse rindo - Mas será que a gente quer isso? Assim, acho que tem coisas que precisam ser pesadas, né? Se não tudo flutuaria... - E soltou uma outra risada.
- Faz sentido, faz sentido.
- Mas o importante é você saber que você pode fazer isso... E aí você que decide quando.
Ela veio e o abraçou de um jeito estranho. Como eles estavam sentados no chão, eles quase rolaram e caíram. Ele foi pego de surpresa e derrubou sua garrafa no chão.
- Ei, ei, ei! Sem desperdiçar a cerveja! - disse, enquanto pegava a cerveja caída.
- Obrigada! Muito obrigada por essa conversa! - ela disse, e estendeu a mão, devolvendo a bolinha.
- Não precisa agradecer... E pode ficar com a bolinha. É um Geschenk.

Para Anne Marie. Minha amiga.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

The Alchemists






- I don't have a bottle opener. Could you open my beer?
- But of course! Two years here have taught me at least that!
He took her beer bottle and opened it using the top of his.
- Here you go. Now I just need to find a corner where I can open mine... - he said, while searching for any sharp corner of a wall or a fence where he could do it.
- This will do the trick...
And he tried once, twice, three times until the top of his bottle finally popped up and fell near the garden fence.
- Come here, sweetie. Sit. I wanna enjoy your company, since we don't have much time together - she told him - Prost!
- Prost! - he said, looking in her eyes.
He sat at the steps of the concert house next to her. They were in Gendarmenmarkt, Berlin. The wind was chill and the sun was almost gone, even thought it was only 5 pm.
- You know, I can't believe these two years have passed so fast. It is almost March and soon it will be all done. Everybody will go back to their countries or move to different ones. Berlin will feel empty - she said.
- I know! Time is going by so fast! I don't remember it being like this when I was young!
- Right? It took forever to get to Christmas or Easter... I remember my Adventskalender took forever to pass!
- Hahaha! Adventskalender... Another cool thing I will bring home from Berlin. Thanks for the one you gave me, by the way.
- You are welcome - she said, with a smile on her lips.
They both took a sip of their beers.
- How did it go? Do you want to talk about it?
- Well... Yes, yes.
- Ok. I'm all ears - he said and took another sip of beer.
- So... He wanted to talk to me. He wanted to explain himself, talk about us, talk about our future.
- Yes...
- He started telling me how much he loved me and how much he wanted to be with me. He told me he was gonna change. Everything I had told him in the past... He finally got it and he would try to change. He would do whatever I wanted.
- And you?
- I just... I just listened. It was hard you know? I looked at him and... It's not like I hate him or anything. I still care for him and want him to be very happy. But the love I had... It is over. I told him, but it was very hard. He cried. I cried - she said. Her eyes were getting watery
- And how do you feel now?
- I feel terrible. There is this thing here - she pointed at her heart - that just doesn't feel right. I... I feel like I am doing something bad to him. Even though I don't know what. - she was crying - It is heavy.
- Oh, baby, come here - he brought her closer and have her a warm hug.
- It hurts. It hurts very much. I don't think I can carry it.
- Come on, don't cry - he told her, holding her even closer - I think I can help you.
He stood up, grabbed her hands and took her in the direction of a garden nearby. The cold wind was a bit stronger there, so she put her hands in her pockets. 
- Hey, where are you taking me?
He didn't answer. They went to the middle of the garden, next to a big tree, in the shadows.
- Hummm... I think this is a good spot. Do you think anyone can see us?
- I guess... But only if they really pay attention - she said as she cleaned one stubborn teardrop that insisted in coming down her cheeks - What are you gonna show me?
- Here, hold this - he gave her his beer bottle and reached for his backpack.
- I'm getting curious... - she tried to be more cheerful.
- Just a second... Just a second... Would you please hold this as well? - he said, while handing her a bag of cookies and an empty bottle of coke - I carry too much stuff with me! Hahaha... Where is it? Where is it? Oh, here it is! - he cheered as he took out of his bag some kind of ball - Now give me back all this stuff.
He put everything back to his backpack and took the beer bottle back.
- So, this is the secret. All you have to do is to change things. To transform them. You are the one who give stuff their heaviness. Things are not heavy or light per se - he said, as he threw the ball to the air, like if it were a Ping-Pong ball. A gray Ping-Pong ball - if you learn to control it, you will be able to make things as heavy or as light as you want.
- Are you kidding me, sweetie? You have always been funny! - She said as she turned back and started walking away - Come on! You already cheered me up. I got the point. Now let's leave the dark, come!
- Hey, it is true! Don't you believe? Catch! - And he threw the ball to her.
She did and automatic gesture to catch the Ping-Pong ball. But when it reached her hand she realized it was very heavy. It almost made her loose her balance and drop her beer.
- Wow! What is that? - She asked while dropping the ball on the ground - is this made of lead?
- You got it on the first try! Congrats! Now come back here, sit with me.
She took the ball and walked in his direction, with disbelief in her eyes. What kind of funny joke was that? As she sat, he started explaining.
- This is how you do... - he placed the ball between them, on the ground - You know, as I told you, we often don't realize, but things are not heavy or light per se - he took her hands and placed the ball on one of them - we are the ones who see things in a manner and decide how they exist for us - then he took one of his hands and placed over her hand, creating a cocoon around the ball, half her hand and half his hand - I'm sure you have asked yourself if you blue is he same blue as mine. If maybe what I see as blue is your red. Everyone thinks this at some point. Everyone asks those questions because inside us there is this sleeping power, this potential to create our surrounding - he took her other hand and put it on the other side of the ball - When we are children and see things for the first time, we decide how they will be for us. If we decided it then, we can decide it now. We decide it, girl - He pressed her hands around the ball and took away his, making her hold it alone - We.
As she held the lead ball she could still feel its weight.
- Come on... It is still heavy - she said in disbelief.
- Just try it. Go back... Try deciding again how much heavy a lead ball really is. Just try it. Trust me.
She closed her eyes and tried to do it. She remembered of her childhood. Of her mom dropping her by the Kita. Of the weekend when they camped on the beach. She remembered of holding her father's hand when walking on a sunny Sunday to eat some ice cream. And... And this last thought did the trick. She could remember vividly how much she enjoyed feeling the sun on her skin for the first time and specially, how much she liked how her skin had a different smell after being for a while on the sun. She remembered of understanding that feeling and that pleasure. And while she thought of this memory, there, on that cold march Berliner night, she started feel the sun on her skin. She could feel her father's hand holding hers. She could feel the same safety only children can, when they are open to everything and are willing to try whatever they see in front of them. She felt it all. Even if only for a few seconds, she felt it all. And then she also felt that the ball on her hands was as light as a Ping-Pong ball.
She opened her eyes and saw her friend looking at her with a smile.
- So? Can you do it? - He asked her hopefully.
- Yes! - She said with a triumphantly smile - I can! - And she threw the lead ball to the air, as if it was a simple Ping-Pong ball - This is so amazing! Can we do it with anything? - She asked, while playing with her new toy.
- Well, almost anything, girl. Almost anything...  - he explained - I think that it is possible to transform anything heavy into a lighter version, you know? But do we need this? I mean, do we want to have only light things? I don't think so... There are things that must be heavy, otherwise they will fly away... You know what I mean?
- That makes sense... - she answered
- But the important thing is that now you know that you have this power in you... And you decide when to use this.
She hugged him on a weird way, since they were both still sitting on the ground. They almost fell down. He was caught off guard, so he dropped his beer bottle.
- Hey come on! Let's not waste beer - he said as he reached for it on the ground.
- Oh, thank you! Thank you so much for this talk - she said as she handed him back the ball back.
- No worries, girl. No worries. And keep the ball. It is a Geschenk.


For Anne Marie. My good friend. 

Portuguese version

domingo, 1 de junho de 2014

O Corte





Tudo que Jorge queria era ficar sozinho. Ser invisível. Mas não importava o quanto ele tentasse, ele sempre era o centro das atenções. As roupas pretas e o corte de cabelo sem forma não conseguiam esconder o óbvio: ele era muito alto pra sua idade. Enquanto esperava por sua professora, encostado em seu carro, ele só pensava nisso. Aos treze anos ele era o aluno mais alto de sua classe. Alto, magro e desajeitado. Em qualquer ambiente ele chamava atenção. E era por isso que ele estava muito preocupado com essa apresentação de biologia. Ele não queria ter feito um trabalho tão bem feito. Ele tinha tentado ser o mais mediano possível, mas não teve jeito. Ele dissecou aquele sapo de uma forma tão precisa e que ela o escolheu para representar a escola na competição regional que aconteceria no fim de semana. "Você é muito talentoso, meu jovem! Você fez um trabalho perfeito," ela disse. Isso ele já sabia. Ele sempre gostou de cortar coisas.
Não era culpa dele se todos os colegas dele eram burros. Tá certo que ele devia ter imaginado que ninguém ia se esforçar nesse trabalho e que ele ia se sobressair. E agora ia ser difícil sair dessa. As pessoas geralmente acham que é bom ser diferente. Que todos deveriam tentar se sobressair e mostrar ao mundo aquilo que as torna únicas. Jorge sabia que o que nos faz únicos nem sempre é algo bom. As vezes ele queria ser mais como a Maria. Ela era a garota que se sentava no fundo da sala e que costumava fazer cortes em seu braço esquerdo com um estilete. Isso ele conseguia entender. Ele também queria poder cortar seus problemas. Se pudesse, ele faria uma dissecação em si mesmo e, depois de abrir seu próprio corpo, separar dentre a pele, veias e sangue, aquilo que fosse desnecessário. Maria ainda tinha várias cicatrizes no seu braço, então ela sempre usava mangas compridas, mesmo em dias quentes.
Enquanto ele pensava nessas coisas, sua professora se aproximava do carro. Ela sorriu a ele e ele sorriu de volta. O mundo estava cheio de gente estranha, ele pensou. Mas eles todos conseguiam fingir ser normais e se encaixar no modelo. Conseguiam esconder o que quer que fosse. Ele não podia deixar de ser alto. Ele sabia que as pessoas olhavam pra ele nas aulas de Educação Física ou quando ele caminhava próximo de seus colegas de turma e isso o incomodava. Ele odiava sentir os olhares em sua direção. Na verdade, ele estava meio triste porque sua professora não tinha aceitado suas desculpas para fugir da apresentação. Ela estava forçando-o a fazer a tal apresentação na frente de todos. Ele decidiu que dali pra frente ele seria mais cuidadoso. Não existiam motivos pra mais sofrimentos. Enquanto ela se aproximava do carro, ele colocou sua mão no bolso e sentiu, o metal frio.
- Oi Jorge, tudo bem? Empolgado com amanhã?
- Eu realmente não queria ir, professora...
- Mas que bobagem, querido! A gente já conversou e você vai apresentar e ponto. Agora me dá licença, que eu to com press... Ah! - ela colocou a mão na garganta tentando bloquear o sangue. Ela não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Ela olhou pra ele, com horror em seus olhos, e tentou falar algo, mas as palavras não conseguiam sair de sua boca. Jorge apenas assistia ao que acontecia. Realmente, ele sempre gostou de cortar coisas.

English Version
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