Tudo que Jorge queria era ficar sozinho. Ser invisível. Mas não importava o quanto ele tentasse, ele sempre era o centro das atenções. As roupas pretas e o corte de cabelo sem forma não conseguiam esconder o óbvio: ele era muito alto pra sua idade. Enquanto esperava por sua professora, encostado em seu carro, ele só pensava nisso. Aos treze anos ele era o aluno mais alto de sua classe. Alto, magro e desajeitado. Em qualquer ambiente ele chamava atenção. E era por isso que ele estava muito preocupado com essa apresentação de biologia. Ele não queria ter feito um trabalho tão bem feito. Ele tinha tentado ser o mais mediano possível, mas não teve jeito. Ele dissecou aquele sapo de uma forma tão precisa e que ela o escolheu para representar a escola na competição regional que aconteceria no fim de semana. "Você é muito talentoso, meu jovem! Você fez um trabalho perfeito," ela disse. Isso ele já sabia. Ele sempre gostou de cortar coisas.
Não era culpa dele se todos os colegas dele eram burros. Tá certo que ele devia ter imaginado que ninguém ia se esforçar nesse trabalho e que ele ia se sobressair. E agora ia ser difícil sair dessa. As pessoas geralmente acham que é bom ser diferente. Que todos deveriam tentar se sobressair e mostrar ao mundo aquilo que as torna únicas. Jorge sabia que o que nos faz únicos nem sempre é algo bom. As vezes ele queria ser mais como a Maria. Ela era a garota que se sentava no fundo da sala e que costumava fazer cortes em seu braço esquerdo com um estilete. Isso ele conseguia entender. Ele também queria poder cortar seus problemas. Se pudesse, ele faria uma dissecação em si mesmo e, depois de abrir seu próprio corpo, separar dentre a pele, veias e sangue, aquilo que fosse desnecessário. Maria ainda tinha várias cicatrizes no seu braço, então ela sempre usava mangas compridas, mesmo em dias quentes.
Enquanto ele pensava nessas coisas, sua professora se aproximava do carro. Ela sorriu a ele e ele sorriu de volta. O mundo estava cheio de gente estranha, ele pensou. Mas eles todos conseguiam fingir ser normais e se encaixar no modelo. Conseguiam esconder o que quer que fosse. Ele não podia deixar de ser alto. Ele sabia que as pessoas olhavam pra ele nas aulas de Educação Física ou quando ele caminhava próximo de seus colegas de turma e isso o incomodava. Ele odiava sentir os olhares em sua direção. Na verdade, ele estava meio triste porque sua professora não tinha aceitado suas desculpas para fugir da apresentação. Ela estava forçando-o a fazer a tal apresentação na frente de todos. Ele decidiu que dali pra frente ele seria mais cuidadoso. Não existiam motivos pra mais sofrimentos. Enquanto ela se aproximava do carro, ele colocou sua mão no bolso e sentiu, o metal frio.
- Oi Jorge, tudo bem? Empolgado com amanhã?
- Eu realmente não queria ir, professora...
- Mas que bobagem, querido! A gente já conversou e você vai apresentar e ponto. Agora me dá licença, que eu to com press... Ah! - ela colocou a mão na garganta tentando bloquear o sangue. Ela não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Ela olhou pra ele, com horror em seus olhos, e tentou falar algo, mas as palavras não conseguiam sair de sua boca. Jorge apenas assistia ao que acontecia. Realmente, ele sempre gostou de cortar coisas.
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- Eu realmente não queria ir, professora...
- Mas que bobagem, querido! A gente já conversou e você vai apresentar e ponto. Agora me dá licença, que eu to com press... Ah! - ela colocou a mão na garganta tentando bloquear o sangue. Ela não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Ela olhou pra ele, com horror em seus olhos, e tentou falar algo, mas as palavras não conseguiam sair de sua boca. Jorge apenas assistia ao que acontecia. Realmente, ele sempre gostou de cortar coisas.
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