terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Aposta

Estar em São Paulo não foi sonhado por mim ou resultado de um plano. Vi a possibilidade e fiz acontecer. Tudo é assim. É possível a qualquer momento encerrar o contrato, aceitar a oferta, abrir a porta e partir. Isso me deixa fascinado, desde que descobri essa possibilidade. Esses dias o presidente dos Estados Unidos mandou assassinar um alto general do Irã, colocando o mundo à beira de uma III Guerra Mundial, ao menos no Twitter. Todos os analistas comentaram que aquela atitude foi bastante inesperada. E, portanto, as consequências são desconhecidas. O Trump aumentou a aposta. 
Há alguns anos (muitos, pra ser preciso... mais de dez) eu decidi fazer algo inesperado. Decidi me aventurar sozinho na noite pela primeira vez. Apostei alto. E a vida me proporcionou uma sequencia de eventos, dessas coincidências encadeadas, que aquecem o coração e mudam toda nossa vida. Semana passada isso aconteceu novamente. Saí numa sexta sozinho, para passear por São Paulo e um novo caminho se desdobrou embaixo dos meus pés. Para um observador desatento, não aconteceu nada mais que uma sequência de coincidências. Que se fodam esses. Eu sei que ali foi dado o início à minha vida em essepê. tô de volta.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Tchau

Fui escritor por um breve período de minha vida, entre 2010 e 2015. Foram alguns textos, vários diários, um livro. Me senti feliz e tão vivo nessa época, que me arrisco a dizer que foi apenas ali que vivenciei o mundo onde estava. E também alguns dos mundos fora de mim.
Ocorre que abandonei a escrita. Fui tomado pelo peso quase descomunal que existia em meu peito e deixei de encontrar na escrita meu refúgio. O peso descomunal era meu amigo desde a mais tenra idade. Apenas na beirada dos anos 30 que descobri que isso era o que todos chamavam de ansiedade. Pois bem, a ansiedade me empurrou para outras coisas. Me empurrou para a loucura que é buscar um emprego que nunca quis. Me empurrou para o medo de gastar meu tempo com algo que não fosse traduzido em dinheiro. Na verdade, ela me empurrou para a segurança. E segurança nunca foi a musa de nenhum artista. Hoje olho pra trás e não fico triste. Pelo menos vivi, na minha juventude, uma centelha de verdade. Ou melhor, da autenticidade. Eu vivi a fagulha da autenticidade. Cheguei a sentir seu calor. Mas agora já é escuro e frio novamente. Lá fora a chuva cai torrencialmente.
Sei que meu fim está próximo e me lembro de 2015. Era uma outra vida naquele tempo. O país mudou. As pessoas mudaram. Eu lancei meu livro em 2015. Disse a mim que queria ser lido. E eu fui lido. A internet possibilita o contato direto com os leitores. E eles comentam. E eu posso ver quantos chegam ao fim da história. É interessante poder saber isso. Mas ao mesmo tempo, pra que serve? Posso dizer que para mim, servia para me envaidecer. Eu fiquei envaidecido com as 800 pessoas que chegaram ao fim do meu livro.
Perai, deixa eu ver aqui.
Foram 424. 424 visualizações no último capítulo. Não sei o que significa, mas me sentia bem. Na lógica da falta de valor próprio, escrever é uma forma de receber validação dos outros. O problema é vários. Eu não gosto nem um pouco de quando não recebo o valor que me falta. Dói, não ser nada. Além disso, isso impregna minha escrita. Isso faz com que eu escreva pensando no que os outros vão querer. No que vão gostar de ler. E daí, é tipo o oásis mais clichezão. Eu vejo, enxergo nitidamente, mas desaparece assim que piso lá. Pum! Só areia. Por isso que minhas outras escritas ficaram uma merda. Tudo que tenho escrito nos últimos dois anos são merda. Claro, eu não escrevo sobre mim. sobre o meu íntimo. Meu medo fudido de ser rejeitado, por exemplo. Não escrevo sobre a compulsão por pornografia. Não escrevo sobre o sentimento de estar sempre desencaixado, nem sobre a loucura que é estar vivendo o sonho de ser aceito pela minha família, sendo homossexual (e descobrir que a vida continua tão confusa quando era antes).
Eu sempre busquei escrever, por que achava que era a única coisa que sabia fazer. Por achar que era um lugar confortável. Onde eu encontraria olhos de aprovação, elogios, palavras de celebração. Pois é isso. Parei. Não faço mais isso. Acabou aqui a carreira que começou simpática lá atrás.
Obrigado se me curtiu e seguiu (haha, que escroto esse ego maldito que pensa que meus "fãs" lerão isso. Relaxa, "ego", to de olho em você. Vou te estraçalhar). Mas continuando, obrigado. Só que agora acabou essa enganação em que me meti.
E vamos pra frente, que é nossa prisão.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Espelho, espelho meu



Parar na frente do espelho e se analisar. Escolher algum detalhe de sua aparência como foco de sua atenção. Rejeitá-lo. Querer ser diferente.
Já fiz esse exercício tantas vezes, que nem me lembro mais. E a prática leva a perfeição.
Só que hoje sei que as sardas que tenho vêm da minha mãe. E com elas, carrego minha mãe comigo, aonde for.
Hoje também sei que esses círculos escuros em volta dos meus olhos, trago da minha avó. E se pensar bem, se parecem com uma maquiagem natural, moldura pros olhos negros, que compartilho com minha irmã.
Sei que, se sou magrelo, meu pai também era na minha idade. E o bigode, que cismou começar a nascer quando eu tinha 12 anos também é dele...
E a cicatriz que tenho no nariz veio das férias, que passei com minha família em Caldas Novas.
Da minha outra vó vem o prazer de ficar acordado, até mais tarde, aproveitando os momentos de solidão que só a madrugada traz. E que desfruto enquanto escrevo estas linhas.
São todos "defeitos" que me definem. Que me conectam com a constelação dos meus. Que me fazem eu.