Fui escritor por um breve período de minha vida, entre 2010 e 2015. Foram alguns textos, vários diários, um livro. Me senti feliz e tão vivo nessa época, que me arrisco a dizer que foi apenas ali que vivenciei o mundo onde estava. E também alguns dos mundos fora de mim.
Ocorre que abandonei a escrita. Fui tomado pelo peso quase descomunal que existia em meu peito e deixei de encontrar na escrita meu refúgio. O peso descomunal era meu amigo desde a mais tenra idade. Apenas na beirada dos anos 30 que descobri que isso era o que todos chamavam de ansiedade. Pois bem, a ansiedade me empurrou para outras coisas. Me empurrou para a loucura que é buscar um emprego que nunca quis. Me empurrou para o medo de gastar meu tempo com algo que não fosse traduzido em dinheiro. Na verdade, ela me empurrou para a segurança. E segurança nunca foi a musa de nenhum artista. Hoje olho pra trás e não fico triste. Pelo menos vivi, na minha juventude, uma centelha de verdade. Ou melhor, da autenticidade. Eu vivi a fagulha da autenticidade. Cheguei a sentir seu calor. Mas agora já é escuro e frio novamente. Lá fora a chuva cai torrencialmente.
Sei que meu fim está próximo e me lembro de 2015. Era uma outra vida naquele tempo. O país mudou. As pessoas mudaram. Eu lancei meu livro em 2015. Disse a mim que queria ser lido. E eu fui lido. A internet possibilita o contato direto com os leitores. E eles comentam. E eu posso ver quantos chegam ao fim da história. É interessante poder saber isso. Mas ao mesmo tempo, pra que serve? Posso dizer que para mim, servia para me envaidecer. Eu fiquei envaidecido com as 800 pessoas que chegaram ao fim do meu livro.
Perai, deixa eu ver aqui.
Foram 424. 424 visualizações no último capítulo. Não sei o que significa, mas me sentia bem. Na lógica da falta de valor próprio, escrever é uma forma de receber validação dos outros. O problema é vários. Eu não gosto nem um pouco de quando não recebo o valor que me falta. Dói, não ser nada. Além disso, isso impregna minha escrita. Isso faz com que eu escreva pensando no que os outros vão querer. No que vão gostar de ler. E daí, é tipo o oásis mais clichezão. Eu vejo, enxergo nitidamente, mas desaparece assim que piso lá. Pum! Só areia. Por isso que minhas outras escritas ficaram uma merda. Tudo que tenho escrito nos últimos dois anos são merda. Claro, eu não escrevo sobre mim. sobre o meu íntimo. Meu medo fudido de ser rejeitado, por exemplo. Não escrevo sobre a compulsão por pornografia. Não escrevo sobre o sentimento de estar sempre desencaixado, nem sobre a loucura que é estar vivendo o sonho de ser aceito pela minha família, sendo homossexual (e descobrir que a vida continua tão confusa quando era antes).
Eu sempre busquei escrever, por que achava que era a única coisa que sabia fazer. Por achar que era um lugar confortável. Onde eu encontraria olhos de aprovação, elogios, palavras de celebração. Pois é isso. Parei. Não faço mais isso. Acabou aqui a carreira que começou simpática lá atrás.
Obrigado se me curtiu e seguiu (haha, que escroto esse ego maldito que pensa que meus "fãs" lerão isso. Relaxa, "ego", to de olho em você. Vou te estraçalhar). Mas continuando, obrigado. Só que agora acabou essa enganação em que me meti.
E vamos pra frente, que é nossa prisão.
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