Era difícil. Um desafio como nunca antes tinha enfrentado. Eu sabia que naquela quinta não teria jeito. Ela não ia acreditar nas minhas desculpas. É que eu já tinha dito algumas vezes que estava doente e que não podia ir.
E como isso fez você se sentir?
Era como se eu tivesse um destino. Algo inevitável. Uma condenação.
Prossiga.
Eu cheguei, me troquei e fui. Todos me olhavam. Eu sentia isso, que todos me olhavam. Por eu ter faltado os dias anteriores, não tinha aprendido com todo mundo. Eu teria que dar meu primeiro salto na frente de todos. Eu, sem nunca ter saltado, não tinha como escapar.
E como foi?
A gente tinha aula normal e guardava a última meia hora pra ir pra piscina funda. Lá que tinham os trampolins. As crianças subiam no trampolim, enfileiradas. Não tinha como ir pra trás. Uma vez na fila, subindo a escada, não tinha como ir pra trás. Todo mundo subia e pulava. Fazia frio, por causa do vento, e todo mundo preferia pular rápido pra estar de volta na água. No quente da água.
Sim...
Me lembro que via cada um pulando. Cada pulo significava um a menos. Eu sentia frio na barriga, mãos geladas. Queria sair correndo. Queria me esconder. Chegou minha vez e eu fui. Fiquei na borda. Coloquei meus pés, com os dedos pra fora. O vento me fazia tremer, com os pelos arrepiados. Eu vi que minha mãe estava na grade da piscina. Ela sorria. O professor falava algumas coisas, mas eu não escutava. A criança que tinha pulado antes de mim já tinha nadado pra longe.
E então?
Lá em baixo era só azul. Só azul. Eu não conseguia. O medo era demais, não conseguia pular. Todos os olhos em mim e eu não conseguia pular.
O quê aconteceu?
Fui pra casa e nunca mais voltei pra aula. Nunca mais.