Hey guys,
Check out my story published in the website iHeartBerlin! It is the one you already could read here, called the Void. If you haven't read it, click on this link. If you have already read it, click anyway... You will find several other amazing short stories about Berlin and its magic.
Kisses!
Gu
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Anestesia
“Pode entrar e se
preparar para a cirurgia. É só vestir a camisola e se deitar. Em cinco
minutos volto pra aplicar a anestesia”.
“Obrigado”.
Ela fechou a porta e
deixou Paulo sozinho. Ele examinou o recinto. A sala era fria e branca. Tirou
sua roupa, vestiu sua camisola e ficou sentado na beirada da
maca. Olhou em volta, tentando achar algum objeto para focar sua atenção. Mas
não obteve êxito.
Pensou no Pedro. Pensou
nele, da mesma forma como tinha feito nos últimos seis meses. Desde que terminaram,
ele não conseguia tirar Pedro de sua cabeça. Na verdade, Pedro estava mais presente no seu dia a dia do que quando estavam juntos. Era sua companhia pro café da manha e pro jantar. Quando Paulo tomava banho, Pedro lhe assistia. Quando Paulo passeava com o cachorro, Pedro o seguia. Quando Paulo tentava trabalhar, Pedro decidia lembrá-lo de todos os aspectos do relacionamento que tinham causado o termino. Até mesmo quando dormia Pedro era tudo que existia em sua mente.
Os amigos diziam que isso ia passar.
Era só ter paciência. Um dia passaria. Mas Paulo sabia que com ele era
diferente. Isso não era apenas uma dor de cotovelo.
Por suspeitar ser algo físico, Paulo
havia ido ao médico semanas atrás. O doutor, após escutar o relato, pediu
vários exames e constatou. Pedro havia se transformado em um tumor. Um tumor no
cérebro de Paulo, para ser mais exato. E o interessante é que esse tumor estava
em uma área de seu cérebro que, segundo o doutor garantiu, era a responsável
pelos pensamentos imediatos.
“Então, pode ser isso que tem me
causado o pensamento fixo no Pedro, Doutor?”
“Olha, não quero fazer uma afirmação
tão forte, mas… sim. Penso que se retirarmos o tumor, você estará livre para
voltar a se preocupar com as coisas ordinárias do dia a dia…”
“Então, quer dizer que ficarei com
raiva do trânsito de novo? E… e acharei graça nas piadas sem graça que meus
amigos me contam na mesa do bar?” perguntou esperançoso.
“Precisamente. Tenho minhas apostas
de que, com a retirada do tumor, você poderá ter as preocupações mais
comezinhas da vida. Sem Pedro”
“Então, Doutor, eu preciso fazer
essa cirurgia” concluiu Paulo melancolicamente.
“Que bom que se decidiu tão
prontamente, rapaz. Mas, antes não quer ouvir dos riscos? Ou
compreender como se deu a formação do tumor?”
“Ah sim, claro.”
“Pois bem, quando você e Pedro
terminaram, você passou por um trauma muito forte. Seu cérebro, então, fugiu da
dor e do sentimento ruim que isso causava. Foi aí que, como um mecanismo
de defesa, seu cérebro realocou todas as células que guardavam essas
memórias específicas em um só local. E as isolou.”
“Nunca escutei nada
parecido.”
“Eu já tinha lido sobre isso, mas
nunca havia realmente tido um caso deste em meu consultório. Na verdade, é mais
comum do que se imagina. Pode acontecer com qualquer um. Por isso que
conseguimos ver pessoas que amaram intensamente, mas que deixam de amar de uma
hora pra outra. O cérebro delas faz esse mesmo procedimento. Mas geralmente
isso não causa o tumor. E sem tumor, ninguém se preocupa em analisar isso…”
“E porque o senhor acha
que isso aconteceu comigo?”
“Não sei dizer ao certo. Mas talvez
você tenha muitas memórias boas – estas ocupam muito mais espaço do que as
ruins. Ou talvez o seu cérebro tenha entendido essas lembranças como muito
relevantes. Isso é o que as pessoas costumam chamar de ‘um grande amor’. O
interessante no seu caso, é que houve uma ‘rebelião’ dessas células. Elas
saíram do casulo e foram se multiplicando. Se multiplicando justamente na área
do seu pensamento imediato. É por isso que ele, o Pedro, está em
todos os seus pensamentos.”
Paulo ficou quieto. Tentava digerir
aquelas informações novas.
“Está tudo bem?” Perguntou o doutor,
um pouco preocupado.
“Sim, claro... Acredito, então, que
essa cirurgia é minha melhor opção”
“Pois é. Tenho que falar sobre a
contraindicação, ou melhor, os efeitos colaterais dessa cirurgia.
Lembra-se como expliquei ao senhor sobre o ajuntamento das células que
guardavam as memórias do Pedro que o seu cérebro fez?”
“Sim. O que tem?”
“Isso significa que todas as suas
lembranças do Pedro estão reunidas no tumor.”
“Não compreendo bem…”
“Isso quer dizer que, ao remover o
tumor, removeremos as memórias do Pedro da sua vida. Em última instância
removeremos ele inteiramente de sua memória.”
“Não me lembrarei dele? Como se
fosse apagado da minha vida?”
“Exatamente. O apagaremos da sua
vida. Mas lembre-se: a literatura médica indica que você poderá seguir com sua
vida logo após a cirurgia.”
Paulo permaneceu quieto, com uma
expressão quase solene.
“Preciso pensar sobre isso, doutor.
Posso ligar em alguns dias com a resposta?”
“Fique à vontade.”
Paulo foi pra casa e tentou pensar no assunto.
No entanto, Pedro povoava todos seus pensamentos. Qualquer filme que assistia
lhe lembrava de Pedro. Qualquer conversa com seus amigos tinha Pedro como
principal assunto. Nada que ele fizesse lhe ajudava em ter uma mente mais calma
para pensar sobre a sua decisão.
Ante a impossibilidade de pensar,
compreendeu que a única opção viável seria fazer a cirurgia. Foi obrigado a
isso, para seguir em frente e continuar com sua vida.
“Posso entrar?” perguntou a
enfermeira do outro lado da porta.
Paulo permaneceu quieto.
Silenciosamente pensando em Pedro.
Ela abriu a porta e perguntou “O
senhor já esta pronto?”
“Sim.”
O médico entrou e começou a lavar
suas mãos. Paulo olhava
pela janela, enquanto a enfermeira limpava seu braço com álcool. O dia estava nublado e o céu estava branco. Bem parecido com o dia
em que eles se conheceram, há três anos. Depois do álcool veio a agulha. Doeu
um pouco.
“Por favor, Senhor Paulo, conte
de dez a um em voz alta.”
“Dez, nove, oito, sete, seis…”
E finalmente descansou em paz.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Anesthesia
“Mr. Grey? You may come in and start getting ready for surgery. Just dress the gown and wait for the doctor. He will be here in five minutes to give you the anesthesia.”
“Thank you”.
She left Paul alone. He looked around. The room was white and cold. He took off his
clothes and put the gown on. Then he sat down on the hospital bed and searched
with his eyes for any object interesting enough to focus his mind on. But he
did not succeed.
His mind
flew back to Peter. He thought of him, the same way he has been doing in the past six months. Since they broke up, Paul can’t manage to get Peter off his
head. Actually, Peter was more present to his everyday life now than
when they were together. He was his company for breakfast and dinner. When Paul
was showering, Peter watched him. When Paul walked the dog, Peter followed him.
When Paul tried to work, Peter wanted to remind him of every
aspect of their relationship that went wrong. And even when Paul slept, all he
did was dream of Peter. Over and over again.
His friends
told him that he needed more patience. That it was normal. And that it would
soon be gone. But Paul knew that with him it was different. It was more than a regular heartbreak.
Paul
suspected that he was suffering of a physical condition, so he went to the hospital
some weeks before. The doctor, after listening carefully to all he had to say,
came up with a diagnosis. Paul had a brain tumor. More specifically, all the memories from Peter had
become a tumor inside Paul’s brain. And the tumor was located in the region where he storaged his immediate memory.
“So this is
why I can’t stop thinking about Peter, Doctor?”
“Well, don’t
tell anyone that I told you this, but… Precisely! All we need to do is to extract
this tumor from your brain and you will be back to your everyday life.”
“And then I
will be able to think of normal things? Like, complain about the bad quality of
Sunday TV? Or laugh of the stupid jokes my friends make in a bar table?” asked
Paul, hopefully.
“Indeed. I
am sure that, once we get rid of this tumor, you will be back to your life.
Peter-free.”
“So I need
to do this surgery, Doctor,” concluded Paul, melancholically.
“I am happy
you are so decided to be cured, young man. But don’t you want to know more about
your condition and how are we going to help you?” asked the doctor.
“Oh, sure.”
“You see,
when you and Peter broke up, you suffered intensely. Your body understood this
as a trauma and tried to get rid of all the pain and suffering the fastest it
could. So, as a defense mechanism, your brain gathered all the brain cells that
contained your memories of Peter and kept it hidden in a specific region. You
know, so it would be easier to handle them. It tried to isolate those
memories.”
“Really?”
asked Paul, “I’ve never heard of anything like this…”
“It is very
rare,” explained the doctor, “but more common than you would imagine. There are
several cases registered in the medical literature. I am sure even you
already saw this happening. Let me give you an example… Have you ever met a
couple that seemed perfectly in love, but after breaking up they just kept going on with
their lives? As if they never loved each other?” Paul nodded, thinking about how
Peter had asked someone else in marriage before meeting him, and that he was just
fine when they met. “In those cases, their brain did the same procedure, but
successfully. I mean, there was no tumor” clarified the doctor.
“Hmmm. And
why do you think I have a tumor?”
“We can’t
really tell, but… You seem to have a great amount of good memories… That is for
sure. And everybody knows that those memories use more space than the bad ones.
Another hypothesis would be that your brain understood that those were very
relevant memories to you. They are what common people would call “a great love”. But
what is specially interesting in your case is that your cells did not accept
the isolation and started to reproduce uncontrollably. They left their area and
multiplied incessantly. And they did it in the region where you keep your
recent memories. And this is why Peter is present in every single thought you
have.”
Paul stood
there quiet. It was a lot to digest.
“Are you
ok?” asked the doctor, a little worried.
“I am,” said
Paul coldly, “So I believe surgery would be my best option, right?”
“Yes. But
you must know that there are side effects, or better saying, consequences to
this surgery. Do you remember that all your Peter memories are gathered in this
tumor?”
“Yes…”
“This means
that all the memories you have of him will be in the tumor.”
“I see…
And?”
“The same tumor
we will get rid of,” explained patiently the doctor.
“I don’t
understand.”
“This means
that, when we remove the tumor, you will lose all your memories related to
Peter. The good and the bad ones. You will forget you ever met him.”
“I will not
remember I met him? Like if you could literally erase him from my mind?”
“Exactly.
We will remove him entirely from your life. But remember, all medical literature about this indicates that patients are ready
to go back to their normal lives after the procedure.”
Paul became even more serious.
“I need to
think, doctor. Can I call you back about this?”
“Take your
time, son.”
Paul went
home and tried to think about the decision. However,
Peter was in all of his thoughts. Anything he tried to do came back to Peter.
Every conversation with his friends came back to Peter. Every movie reminded
him of Peter.
Since he
could not think straight, he understood that the only viable option was to
undertake the surgery. It was not his choice. But the necessary condition to go
on with his life.
“May I come
in?” asked the nurse from the other side of the door.
Paul stood
still. Silently thinking of Peter.
She opened
the door and asked, “Are you ready, Mr. Grey?”
“Yes.”
The doctor
came in and started washing his hands. Paul laid down. As the nurse cleaned his
arm with alcohol, Paul looked outside. The day was cloudy and the sky was
white. Just like it was when he first met Peter three years ago. After the alcohol
came the needle. It hurt a little.
“Please, Mr.
Grey, count backwards from ten to one.”
“Ten, nine,
eight, seven, six…”
And he
finally rested.
sábado, 2 de novembro de 2013
Breakfast
It is a cold day. And as usually, it was hard for me to get up this morning. But now I am here, sitting alone in my kitchen. Enjoying the morning solitude. I have just prepared myself some fresh coffee and the smell fills the kitchen. It helps me to feel awake for one more day. You know, this is one of my favorite parts of coffee, the aroma. It is just that, as I hold my coffee mug with both my hands, and feel the heat, the smell fulfills me. It is the smell of the coffee break from my first job. The smell of my home kitchen, which is far away, in Brazil. Of "please mom, can't I sleep for just 5 more minutes?"
Before taking my first sip of coffee, I look inside the mug and there it is another of my favorite things of coffee: the color. I know I can almost sound ridiculous, but I will say it anyway. I'm fascinated by the blackness of coffee. It does not resemble at all the artificial color of a coca-cola, with its stressed bubles. No... With coffee it's different. He just lays there, quiet, releasing a discrete mist, like if he were just waiting for me. I stare at my cup of coffee, but he just stares back. He keeps looking back deeply into my eyes, challeging me. I can almost hear "are you gonna face another day?" I try to object, but he ignores me. He ignores and keeps staring at me. And like it usually happens in those imaginary eye battles, one part must lose. So I look away. I close my eyes pretending it will make me enjoy better the fragrance. But then, I realize that, instead of running away from the darkness, now I am inside it. It is not dark only inside my coffee mug, but everything around me becomes dark
I keep my eyes shut for a moment. The scent and the darkness play tricks with my mind. While the aroma takes me back to several familiar memories, with pleasant colors I already know, the darkness leads me to a world of colors I have never imagined before. Colors that are waiting for me in this unknown future. And then I catch myself feeling amazed by their beauty and hardness. They are the hidden colors inside my dark coffee. This journey lasts only for a moment, because I quickly open my eyes and find myself again alone in my kitchen. Outside my gray window a raven sings sadly in the Berliner sky.
And Berlin's melancholic sky reminds me of my third favorite part of coffee. I like how bitter it tastes. I have stopped adding suggar to my coffee for a while now. I must confess that I don't miss it anymore. Maybe I'm getting old, but with time I've learned that sweetness can make you sick. One cannot rely on a blue sky everyday. There isn't such a thing as a life of only happiness. And this is fine. What we understand as undesirable can also hold a hidden beauty. Bitter and sour also play an important part in life. And it would be unbearable to have an entire life where you only know the obvious tastes.
Only then I take my first sip of coffee, receiving this black bitter liquid, that carries in it memories, fears and amazing possibilities.
Good morning.
Before taking my first sip of coffee, I look inside the mug and there it is another of my favorite things of coffee: the color. I know I can almost sound ridiculous, but I will say it anyway. I'm fascinated by the blackness of coffee. It does not resemble at all the artificial color of a coca-cola, with its stressed bubles. No... With coffee it's different. He just lays there, quiet, releasing a discrete mist, like if he were just waiting for me. I stare at my cup of coffee, but he just stares back. He keeps looking back deeply into my eyes, challeging me. I can almost hear "are you gonna face another day?" I try to object, but he ignores me. He ignores and keeps staring at me. And like it usually happens in those imaginary eye battles, one part must lose. So I look away. I close my eyes pretending it will make me enjoy better the fragrance. But then, I realize that, instead of running away from the darkness, now I am inside it. It is not dark only inside my coffee mug, but everything around me becomes dark
I keep my eyes shut for a moment. The scent and the darkness play tricks with my mind. While the aroma takes me back to several familiar memories, with pleasant colors I already know, the darkness leads me to a world of colors I have never imagined before. Colors that are waiting for me in this unknown future. And then I catch myself feeling amazed by their beauty and hardness. They are the hidden colors inside my dark coffee. This journey lasts only for a moment, because I quickly open my eyes and find myself again alone in my kitchen. Outside my gray window a raven sings sadly in the Berliner sky.
And Berlin's melancholic sky reminds me of my third favorite part of coffee. I like how bitter it tastes. I have stopped adding suggar to my coffee for a while now. I must confess that I don't miss it anymore. Maybe I'm getting old, but with time I've learned that sweetness can make you sick. One cannot rely on a blue sky everyday. There isn't such a thing as a life of only happiness. And this is fine. What we understand as undesirable can also hold a hidden beauty. Bitter and sour also play an important part in life. And it would be unbearable to have an entire life where you only know the obvious tastes.
Only then I take my first sip of coffee, receiving this black bitter liquid, that carries in it memories, fears and amazing possibilities.
Good morning.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Café da manhã
Hoje o dia está frio. Foi uma dificuldade pra sair da cama, mas
consegui. Agora estou sozinho na cozinha, aproveitando a solidão matinal. Acabo
de passar um café fresquinho. Seu cheiro forte inunda a cozinha e me ajuda a
acordar pra mais um dia. Sabe, é essa minha parte preferida do café: seu
cheiro. É que, segurando a caneca de café preto e sentindo seu calor em minhas
mãos, seu cheiro me inunda. Cheiro da cozinha lá de casa, no Brasil distante. Cheiro
da pausa pro cafezinho do trabalho. Cheiro de “só mais 5 minutinhos, mãe, que
eu já eu levanto pra ir pra escola”.
Antes do primeiro gole, olho dentro da caneca e me
deparo com minha segunda parte preferida do café: sua cor. Correndo o risco de
me tornar ridículo, vou compartilhar com vocês um segredo: o negro do café me
fascina. Longe de ser o negro artificial de uma Coca-Cola, com suas bolhas
agitadiças, o café não. O café fica quieto, deixando uma pequena névoa se desprender de sua superfície, me aguardando. Miro
para o misterioso círculo negro dentro de minha caneca, mas ele não se
intimida. Me olha de volta no fundo dos olhos, como que me desafiando: você vai
encarar o desconhecido? Você vai enfrentar mais um dia, com todos seus
desafios? Tento protestar, mar ele não fala mais nada. Apenas permanece me
encarando. Como geralmente acontece nesses pequenos duelos de olhares, sempre
ha um vencedor e um perdedor. E eu me dou por vencido, desviando meu olhar. Fecho
os olhos pra aguçar meu olfato, mas então, ao invés de desaparecer, a negritude
se agiganta, saindo dos limites da caneca e tornando-se a imensidão dos olhos
fechados. Fora de mim já existe a manhã, mas o café me acorda pra lembrar que a
noite voltará.
Enquanto estou de olhos fechados, o cheiro e a
negritude brincam com meus sentidos, me levando pra visitar lugares
inesperados. O cheiro me puxa pras lembranças diversas. Cores conhecidas,
familiares e agradáveis. Mas a negritude me mostra cores nunca antes vistas. De
um futuro desconhecido. De um futuro que me deixa maravilhado com sua dureza e
beleza. Cores escondidas no desconhecido do negro. Uma jornada que dura apenas
um instante, pois abro os olhos e estou de volta em minha cozinha, com sua
janela cinza. Do lado de fora um corvo canta triste no céu de Berlim.
E o céu melancólico de Berlim me lembra da minha
terceira parte preferida do meu café: seu gosto amargo. Deixei de tomar café adoçado
faz um tempo já e confesso que não sinto falta mais. Coisa da idade. Com o
tempo aprendi que o doce pode ser muito doce. Que não podemos ter céu azul
todos os dias. Que não pode existir uma vida de alegrias apenas. Mas também
aprendi que está tudo bem. Que o que percebemos como indesejável também traz
sua beleza. Que o azedo e o amargo possuem um espaço muito importante em nossos
dias. E que seria insuportável conhecer apenas o doce e salgado de tão óbvios
que são.
E assim, tomo meu primeiro gole do dia, recebendo esse
liquido negro e amargo, que vem carregado de memórias, medos e misteriosas
possibilidade.
Bom dia.
domingo, 18 de agosto de 2013
Escadas da vida
Era domingo, o dia santo. O dia em que não fazemos nada além de aproveitar nossa própria preguiça. O dia estava chuvoso, então eles decidiram ir ao shopping. Eles só queriam dar uma volta... Talvez até comer um pedaço de bolo. A única certeza que eles tinham era essa: queriam ser namorados. Ele tinha tanta certeza disso ao olhar ao seu namorado. Era o tipo de certeza que só quem sabe o tanto de amor que existe em uma relação consegue ter. E é verdade que seu namorado era lindo... Mas era mais que isso. Eles estavam unidos pelo toque de sua pele. Suas mãos quentes se encaixavam perfeitamente. Era amor. Tão simples e complicado como só o amor pode ser.
Seu namorado queria comer o tal bolo. Que tal chocolate? Ele escolheu um pedaço bem grande e bonito, e pediu pra embrulhar pra viagem. Foram em direção à praça central do shopping e se sentaram perto do jardim. Seu namorado abriu a embalagem e pegou o pedaço de bolo com suas mãos. Sorrindo, ofereceu a ele. E é claro que ele aceitou. Comeu e... E sentiu que o bolo era gostoso. Mas era doce. Doce demais. Agora ele precisava de água.
Se levantaram e continuaram seu passeio. O shopping não era tão interessante agora. As mesmas vitrines, mesmas marcas, mesmas pessoas. E de repente eles estavam parados em frente a uma escada rolante. Ele queria subir. E seu namorado disse "Tudo bem. Eu vou com você." Mas o problema é que ele queria ir sozinho. Ele precisava disso. Ele precisava de alguns momentos sozinho. O namorado perguntou por quê. Por que eles não podiam ir juntos? Será que ele não o amava mais? Mas ele não sabia como responder. Tudo aquilo que eles tinham era doce. Mas era doce demais. Agora ele precisava de algum tempo sozinho.
Assim, o namorado compreendeu. "Pode ir, meu amor. Vai que eu espero aqui. Pode ir, mas volta, que eu vou estar aqui te esperando".
Então ele juntou sua coragem e começou a caminhar. Parou por uns instantes e olhou pra trás, pro seu namorado, que continuava ali, olhando pra ele, carregando um sorriso triste em seus lábios. Tornou a olhar pra frente e subiu na escada rolante. Começou a subir, mas... Mudou de ideia. Será que era isso mesmo que ele queria? E rapidamente ele começou a descer pra fora da escada. Saiu da escada e foi correndo pros braços do seu namorado.
É claro que o namorado ficou feliz com isso. O recebeu e abraçou e o beijou. "Você quer ficar aqui comigo? Ou quer que eu vá com você pro segundo andar?" perguntou ele esperançoso...
Mas não. Ele ainda queria ir... E queria ir sozinho... Ao dizer isso ao seu namorado, quebrou seu coração mais um pouquinho... Ele se desculpou, mas essa era a verdade. E não havia como fugir dela. Dessa vez ele se despediu de novo e foi em direção à escada rolante com um pouco mais de confiança. Ele ainda sentia medo, mas não olhou pra trás. Embarcou no primeiro degrau e começou a subir. Dessa vez ele conseguiu chegar no meio do caminho, mas o sentimento de insegurança era muito forte. Ele novamente voltou correndo, atropelando todo mundo que estava em seu caminho. De novo ele aterrissou nos braços do seu amado. Era tão bom estar ali... Saber que aquele lugar seguro ainda estava ali. Seu namorado o abraçou fortemente, quase em lágrimas. Então ele pegou em sua mão, com firmeza, e disse:
"Vamos, meu amor. Vamos pra outro lugar. Eu estou cansado de ficar aqui esperando e eu quero ver mais coisas aqui no primeiro andar. Com você. Vamos os dois juntos... Quer ir?"
E dessa vez ele não disse nada. Somente sorriu e finalmente compreendeu tudo. Chegou mais perto de seu namorado e deu um longo e triste último beijo. E então foi em direção à escada rolante. Dessa vez, a viagem aconteceu sem sobressaltos. Ele estava em todo o percurso virado em direção ao namorado. Olhando em seus olhos. Mas ele foi até o fim. E o namorado... Ah, ele estava com um olhar triste, claro. Mas logo ele desapareceu de sua vista. Ele chegou sozinho ao segundo andar. E tudo era exatamente igual ao andar que ficara pra trás. As mesmas vitrines, mesmas marcas, mesmas pessoas. A diferença é que agora ele estava só. Seu namorado tinha ficado pra trás. Ele compreendeu, então, que sentiria muitas saudades dele. Correu, então, em direção à escada rolante e foi pro andar debaixo, na esperança de encontrar seu namorado esperando por ele! Mas já era tarde demais... Quando ele finalmente chegou no andar debaixo o namorado não estava mais lá. E tudo era igual: mesmas vitrines, mesmas marcas, mesmas pessoas. Sem namorado.
Seu namorado queria comer o tal bolo. Que tal chocolate? Ele escolheu um pedaço bem grande e bonito, e pediu pra embrulhar pra viagem. Foram em direção à praça central do shopping e se sentaram perto do jardim. Seu namorado abriu a embalagem e pegou o pedaço de bolo com suas mãos. Sorrindo, ofereceu a ele. E é claro que ele aceitou. Comeu e... E sentiu que o bolo era gostoso. Mas era doce. Doce demais. Agora ele precisava de água.
Se levantaram e continuaram seu passeio. O shopping não era tão interessante agora. As mesmas vitrines, mesmas marcas, mesmas pessoas. E de repente eles estavam parados em frente a uma escada rolante. Ele queria subir. E seu namorado disse "Tudo bem. Eu vou com você." Mas o problema é que ele queria ir sozinho. Ele precisava disso. Ele precisava de alguns momentos sozinho. O namorado perguntou por quê. Por que eles não podiam ir juntos? Será que ele não o amava mais? Mas ele não sabia como responder. Tudo aquilo que eles tinham era doce. Mas era doce demais. Agora ele precisava de algum tempo sozinho.
Assim, o namorado compreendeu. "Pode ir, meu amor. Vai que eu espero aqui. Pode ir, mas volta, que eu vou estar aqui te esperando".
Então ele juntou sua coragem e começou a caminhar. Parou por uns instantes e olhou pra trás, pro seu namorado, que continuava ali, olhando pra ele, carregando um sorriso triste em seus lábios. Tornou a olhar pra frente e subiu na escada rolante. Começou a subir, mas... Mudou de ideia. Será que era isso mesmo que ele queria? E rapidamente ele começou a descer pra fora da escada. Saiu da escada e foi correndo pros braços do seu namorado.
É claro que o namorado ficou feliz com isso. O recebeu e abraçou e o beijou. "Você quer ficar aqui comigo? Ou quer que eu vá com você pro segundo andar?" perguntou ele esperançoso...
Mas não. Ele ainda queria ir... E queria ir sozinho... Ao dizer isso ao seu namorado, quebrou seu coração mais um pouquinho... Ele se desculpou, mas essa era a verdade. E não havia como fugir dela. Dessa vez ele se despediu de novo e foi em direção à escada rolante com um pouco mais de confiança. Ele ainda sentia medo, mas não olhou pra trás. Embarcou no primeiro degrau e começou a subir. Dessa vez ele conseguiu chegar no meio do caminho, mas o sentimento de insegurança era muito forte. Ele novamente voltou correndo, atropelando todo mundo que estava em seu caminho. De novo ele aterrissou nos braços do seu amado. Era tão bom estar ali... Saber que aquele lugar seguro ainda estava ali. Seu namorado o abraçou fortemente, quase em lágrimas. Então ele pegou em sua mão, com firmeza, e disse:
"Vamos, meu amor. Vamos pra outro lugar. Eu estou cansado de ficar aqui esperando e eu quero ver mais coisas aqui no primeiro andar. Com você. Vamos os dois juntos... Quer ir?"
E dessa vez ele não disse nada. Somente sorriu e finalmente compreendeu tudo. Chegou mais perto de seu namorado e deu um longo e triste último beijo. E então foi em direção à escada rolante. Dessa vez, a viagem aconteceu sem sobressaltos. Ele estava em todo o percurso virado em direção ao namorado. Olhando em seus olhos. Mas ele foi até o fim. E o namorado... Ah, ele estava com um olhar triste, claro. Mas logo ele desapareceu de sua vista. Ele chegou sozinho ao segundo andar. E tudo era exatamente igual ao andar que ficara pra trás. As mesmas vitrines, mesmas marcas, mesmas pessoas. A diferença é que agora ele estava só. Seu namorado tinha ficado pra trás. Ele compreendeu, então, que sentiria muitas saudades dele. Correu, então, em direção à escada rolante e foi pro andar debaixo, na esperança de encontrar seu namorado esperando por ele! Mas já era tarde demais... Quando ele finalmente chegou no andar debaixo o namorado não estava mais lá. E tudo era igual: mesmas vitrines, mesmas marcas, mesmas pessoas. Sem namorado.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
The Void
Some days
nothing seems to work. You know when things just don't flow? This is what
happened yesterday with me. I was leaving home a little late for my bus and on
my way downstairs I felt something was missing. While walking I reached for my
pocket and felt the empty space: I had forgotten the book I am reading on
my subway rides. I hesitated for a moment before deciding to quickly go back
and pick it up. When I finally arrived at the bus stop
I had missed it by just a few seconds! And there you go… I knew I had
messed up the feng shui of my day:
missing that bus, led me to take the wrong train, which, by its turn, led me to
the wrong train station.
So, there
I was, standing at the wrong station, already super
late for my class, when I decided I might as well skip it for the day.
I left the station and started wandering around, thinking about life, when I noticed I was still carrying the book that had caused this small revolution in my Monday morning’s plans. Isn’t it funny how almost every day small things can have an impact on our lives? If I hadn’t decided to go back and pick up that book, I would then be learning the Konjunktiv II. But instead I was now taking a walk.
I left the station and started wandering around, thinking about life, when I noticed I was still carrying the book that had caused this small revolution in my Monday morning’s plans. Isn’t it funny how almost every day small things can have an impact on our lives? If I hadn’t decided to go back and pick up that book, I would then be learning the Konjunktiv II. But instead I was now taking a walk.
On my way
I spotted a gap in a row of buildings that looked like a square, or better: a
garden. It was kind of funny, because it really looked like someone had taken
an entire house out of the middle of those two buildings, as easily as someone
cuts a piece of cake. And then, the neighborhood, without having anything
better to do with the empty place, had decided to make a garden out of it. It
reminded me of my hometown, Brasilia, which also has lots of empty spaces. In
fact, there are so many empty spaces in Brasilia that I wondered if it could
ever be covered with gardens. If that happened, there would be no prettier
city. But anyway, I was not in Brasilia. And as far as I knew, I had found the
prettiest garden in Berlin. I decided to sit there and enjoy the flowers, feel
the sun, and watch the kids running around.
As I
watched those kids, I tried to remember how many “books” I had come back to
pick up in my life. And how many times those books had taken me to places I had
never imagined going… I must confess I couldn’t remember a single one of them.
I guess our limited capacity to keep memories makes us erase several of those
unimportant decisions that make small revolutions in our everyday life.
One of
the children came running towards my bench and hid behind it. And only then I
realized those children weren’t randomly running. They were playing hide and
seek. So I carefully pretended I didn’t know what was going on with this small
fugitive and kept my Monday morning’s thoughts. I guess it is better not to
remember everything. We do not have a vocation to be God and carry the weight
of knowing everything. And this is good. I doubt those kids would be able to
run so lightly if they had to carry all this weight.
This idea
became even clearer to me just a few moments later, when I stood up and walked away from the garden.
On my way out I could read a sign that explained how that empty space was
actually a house destroyed by bombs during World War II. I tried to digest such
information. But it was just Berlin being Berlin, and asking permission not to
forget its past.
Yes, this
is typical Berlin. She is always telling me that her empty spaces have
meanings; that her sidewalks have small golden plaques; that her fountains have
lists of names from people who were taken away before their time. Yes, this was
only Berlin trying to teach my mind that it is not ok to forget everything; that
some things should never be forgotten.
And there
you go. As I kept walking through Berlin’s perfect sidewalks my mind travelled
to Brasilia once more. If Berlin carries the weight of its own heavy past, Brasilia
aims for the opposite. She constantly turns our heads to the sky. And
everything is so light there that we keep forgetting our recent past which we just
started to build. While in Berlin all those empty spaces are there to remind us
of things that have been, but no longer are, in Brasilia empty spaces make us
think of the future. Emptiness means potential and possibilities. And all this lightness of having
possibilities can also bring weight with it. The weight of the responsibility
we have when we decide how to fill them.
And then I couldn’t help but smile, just like I always do when I suddenly see those improbable correlations.
And then I couldn’t help but smile, just like I always do when I suddenly see those improbable correlations.
And all became even more special
when I realized that exactly one year ago I left the city with no past to the
city with too much past. The only city that could add a little bit of heaviness
to my twenty-five years of Brasília.
O poder do vazio
Tem dias em que as coisas parecem estar amarradas... Sabe quando o dia não flui? Comigo isso acontece uma vez por mês, mais ou menos... Ontem mesmo, por exemplo. Saí de casa alguns minutos atrasado pra pegar o ônibus, mas no meio das escadas percebi que tinha esquecido o livro que to lendo no metrô... Parei por alguns instantes e decidi que iria voltar pra buscá-lo. Quando cheguei no ponto, tinha perdido o ônibus por alguns segundos! E aí aconteceu... Eu tinha que decidir entre esperar o próximo ou andar até a estação de trem. Mas comigo, quando isso acontece, eu sei que o feng shui do dia já ficou todo embaralhado. E não deu outra! Decidi esperar pelo próximo ônibus, que chegou atrasado. E aí eu perdi o trem, novamente, por alguns segundos. Como peguei o próximo trem que passou, nem percebi que era outra linha, que não me levava aonde eu queria... E foi assim que eu fiquei super estressado logo de manhã! Parado na estação errada, já com meia hora de atraso, resolvi que não fazia sentindo mais me apressar pra aula. Então, eu iria só pra segunda metade da aula mesmo. Era melhor investir meu tempo em refazer minhas energias.
Saí da estação e fui caminhando enquanto pensava na vida. Olhei pro livro que eu ainda segurava em minha mão. A causa disso tudo. Engraçado como todos os dias a gente está constantemente mudando nossas vidas. Se eu não tivesse ido buscar o tal livro, estaria agora aprendendo o Konjunktiv II. Mas parece que foi mais forte que eu. E agora eu estava aqui. Passeando...
Avistei um espaço entre os prédios que me pareceu ser uma praça ou jardim. Na verdade era não bem uma praça... Parecia mais que alguém tinha tirado uma fatia entre dois prédios. E naquele terreno baldio, os moradores mesmos se empenharam em construir um pequeno jardim, com árvores e banquinhos. Me sentei pra observar umas crianças que corriam pelo sol.
Enquanto olhava as crianças, tentei me lembrar de quantos “livros” eu já tinha voltado pra buscar. E quantas vezes eles já tinham me levado pra lugares inesperados... Confesso que não consegui me lembrar de um sequer. Acho que nossa capacidade limitada de armazenar memórias nos faz apagar várias dessas decisões desimportantes que fazem pequenas revoluções em nossas vidas. Uma das crianças veio atrás do meu banco e se abaixou, rindo baixinho. Só então percebi que as crianças não estavam correndo aleatoriamente... Elas estavam brincando de pique-esconde. Fingi que não tinha nada a ver com a agitação ao meu redor e continuei meus pensamentos de segunda-feira de manhã. Que bom que não nos lembramos de tudo. Acho que não somos – e nem temos vocação pra ser – Deus e carregar o peso de tudo saber. E isso é bom. Se a gente carregasse todo esse peso, duvido que nossas crianças conseguiriam correr com tanta leveza quanto eu estava vendo em minha volta.
E isso ficou ainda mais claro quando me levantei pra continuar meu passeio e fui ver a placa no canto do parque. Lá no cantinho eles explicam que onde havia a pequena praça, ficava uma casa que foi destruída por uma bomba na segunda guerra. Sorri pra mim mesmo enquanto tentava fazer essa informação fazer sentido. Mas era apenas Berlim sendo Berlim e, pedindo licença pra não esquecer seu passado.
É... Berlim gosta de fazer isso. Sempre me diz que seus vazios tem significado. Que suas calçadas tem umas pequenas lajotinhas douradas. Que suas fontes tem listas de pessoas que se foram. Sim, era apenas Berlim, tentando lutar contra minha mente imperfeita que tudo tenta esquecer.
Mas que coisa! Enquanto continuava meu passo pelas calçadas perfeitas de Berlim, comecei a lembrar de minha cidade. Se Berlim nos traz o peso do passado e nos deixa com os pés bem firmes no chão, Brasília se propõe a justamente girar nossas cabeças em direção ao ceu e, em sua leveza, nos esquecemos do passado que ainda estamos tentando começar a construir. Se, em Berlim o vazio me lembra do que já foi e que precisa ser reconstruído, em Brasília o vazio nos remete ao futuro... É aquilo que ainda não veio. E toda essa leveza da possibilidade do futuro também traz seu peso. Os vazios de Brasília nos lembram da responsabilidade que todos nós temos ao decidirmos como vamos preenche-los.
Sorri de novo, como sempre faço quando vejo essas associações improváveis. E tudo ficou ainda mais especial quando percebi que hoje faz um ano que saí da cidade sem passado para a cidade com passado demais. A única cidade que conseguiu colocar um pouco de peso necessário aos meus vinte e cinco anos de Brasília.
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Because we are still here, and we still love you.
- But... So now I have to say that I "loved" her, mom?
- That is right, sweetie - explained the mother, while trying to choose which was the best option for her son to wear at church that sunday: black or yellow shirt?
- But I still love grandma, mom... - said the boy, paying attention to a bird he could see through the window flying outside.
- I know, sweetheart - said the mother, finally deciding that her boy didn't have to wear black. Afterall, who would demmand a propper mourning from a six-year-old... - But now grandma is in heaven... And this is how we have to say now. Whenever someone goes to heaven, we don't say that we love the person. We say that we loved the person. Now take off this dirty shirt, so I can put this new one on you.
The boy obeyed his mother, but didn't stop asking.
- Do you love her, mom? I mean, do you love grandma?
This direct question hit her with all the weight of reality. Her mother was now dead.
- Of course I did, sweetie. I loved her.
- You don't love her anymore? - asked him, looking deeply in his mother's eyes, a bit confused, a bit sad.
- It's not this. It is just the way we say it... She is in heaven now, remember?
- But I am still here. And I feel the love here inside - explained him pointing to his chest.
The mother was touched by that... Actually his confusion made sense. She still loved her mother.
- I feel it too, sweetie. I guess you are right. I do love her.
As he heard his mom saying this, he smiled again! And he raised his arms to his mother, asking for a hug.
- So let's say goodye to grandma, mom! And let's tell her we love her!
And his mother hugged him, with tears rolling from her eyes.
To Dione. Because we are still here, and we still love you.
domingo, 16 de junho de 2013
The Giant is Awake
Hello, my good
friends,
Today I went to a protest here in Berlin to support my fellow brazilians who are changing the world back home. So, I believe it would be nice to talk
to you about what is happening in my beloved country, Brazil. In this last week, we have seen
several manifestations and protests there. They started because of a 20 cents
raise in the tariff for public transportation in São Paulo. But that raise was
just the last straw. We are tired. As a nation, we are tired. And now our population goes to the
streets demanding for respect.
I am often telling my
colleagues here in Germany how Brazil is an amazing country. I love it. I love
its nature, its people, its culture. I love the food and the music. I specially
love our diversity and I also have an optimistic view for our future. And
talking about future, it is often said here that we are finally making it! That
our economy is growing and that we are now soon becoming part of the so-called
developed world! It is really super exciting! The problem is: it is not true.
Or at least not so simple. Let me tell you some facts about my beloved Brazil.
In Brazil, we work
for four months only to pay taxes. At least that is what 35% of taxes
represent. Besides that, everything there is more expensive. If you live in Rio
or São Paulo, your life will be way more
expensive than here in Berlin or even New York.
If only we received back all the public services we are entitled to... All
Brazilians are entitled to free public education and health care. But no. We
have to face everyday how our money is not invested in schools or in hospitals.
How a teacher makes not enough money to buy food while our senators are one of
the most expensives in the world. We also have to deal with corruption, which
steals around 80 billion Reais per year, or 40 billion US dollars.
We struggle with our
own safety too. In big Brazilian cities you have a feeling of security that can
be broken at any moment. I have never experienced myself any kind of violence.
But I know people who have. And we watch the news and we know what to do to keep ourselves safe. So I watch out before walking to my car. I go to malls, not to
open spaces. I don’t go out late at night. But even if I pay attention and only
walk on the safe part of town, there is always one kind of violence that I
cannot run away from. It happens when you are having lunch on a Sunday with
your family and an eight-year-old wearing dirty clothes and no shoes comes
inside the restaurant to ask for money, because he is hungry. And you loose
your appetite. Quickly a waiter will lead the boy out of the restaurant and
everything is like it was again. But those few seconds of contact between the
two Brazils are enough to make us stop pretending everything is ok. You pay the
bill and drive home. Thinking about it in your car.
This is Brazil. You
can think about it while you use the air conditioner of you car. Your amazing
car that costs three times the ones you see here in Europe. Or in Chile (or in
Mexico!). You can think a lot about what happens in the country, because most likely you will
be in a traffic jam. You see, we have a super Government that makes us buy more
and more cars, but doesn’t build enough infrastructure for that. Having a car
in some of the biggest cities of Brazil I extremely expensive! But we keep
buying them, because you don't want to (or cannot) rely on the public
transport. In Brazil, you have lousy, unpunctual, and also expensive public
transportation. If you have a subway, you have only a few lines. If you have
buses, they will be old, crowded and they will often break.
But that is not the
worst about my country. What really made me ashamed of Brazil were two things:
To begin with, our Police is acting like a dictatorial force. They are repressing democratic peaceful movements. They are putting into jail the student leaders of the protests.Now we have political prisioners, just like we had during our dictatorship!
Besides that, our beloved free media was the worst actor of it. The way our
media covered those protests... When we saw a movement of people who are tired of
being exploited and wanted to express their own ideas, we had a media that
turned its back to us. Almost the entirety of our major TV networks and
newspapers quickly portrayed the protestors as outlaws. And maybe a few years
ago that would have been a very efficient way to shape reality in a way that appraised
them. But now it’s different. We have the internet, with twitter, instagram,
facebook and youtube.
Remember of the video
you saw in the beginning? It is super cool, right? With the special effects and
all that... But these ones are even better. These are the videos of a
true giant awakening. Be my guest to watch them:
Rio de Janeiro:
São Paulo:
Brasília:
With love and strength!!! Keep changing my country for me! I am proud of you! :)
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