terça-feira, 8 de setembro de 2015

No ponto de ônibus

 
 
hoje tive consulta médica. Minha mãe estava usando o carro, então fui de ônibus.
Cheguei na parada e me sentei. tinha uma mulher lá também. Passaram, sem brincadeira, 4 zebrinhas com o mesmo destino (sudoeste, esplanada) em menos de 10 minutos.
e nenhum w3! Fico puto com isso.
por acaso, olhei pro lado e vi uma mão segurando no ponto de ônibus. e logo após essa mão veio um senhor, com os beiços inchados.
ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e veio pra debaixo do ponto, se protegendo do sol.
eu me afastei e ele pôde sentar-se ao meu lado
eu abracei minha mochila e fiquei olhando pro local de onde viria o ônibus.
daí senti uma cutucada
era ele, me perguntando algo que eu nao compreendi.
pedi pra ele repetir e ele disse
"qual a primeira coisa que você faz quando acorda?"
eu pensei por uns 2 segundos e disse: abro os olhos?
ele: isso msm. tem gente que diz que vai ao banheiro ou que escova dentes,
Mas como? de olhos fechados é que nao é!
ele seguiu
qual a parte da mulher que cheira a bacalhau?
e eu: o nariz!
ele: boa! Tem gente que pensa coisa impura nessa! mas você tá certo. É o nariz
E continuou: se você tá dirigindo um ônibus, sobrem 30, descem 14, Qual o nome do motorista?
eu sabia essa. Mas pedi pra ele repetir.
ele repetiu, acentuando o VOCÊ
e eu fingi que pensava... pedi pra ele repetir de novo
ele novamente acentuou o você
daí eu fiz que descobria! Mas sou eu, uai!
ele sorriu, com os lábios inchados.
e engatou em outra: tem três ilhas. Em cada ilha três palmeiras. Cada palmeira 7 cocos. Quantos cocos têm?
eu sabia que palmeira nao dava coco, mas respondi
ah! odeio fazer conta de cabeça! só pegar uma calculadora e multiplicar
e ele, triunfante: palmeira não dá coco!
nao tem nenhum!
e logo depois me perguntou: qual a primeira coisa que você faz ao acordar?
daí eu olhei pra moça ao meu lado
ela sorriu um sorriso quieto. triste.
e ele: me diz! presta atençao. qual a primeira coisa que você faz ao acordar?
eu respondi: escovo os dentes

terça-feira, 30 de junho de 2015

Um segundo a mais



Esta terça-feira terá um segundo a mais. A Terra girará mais lenta e nossos relógios terão de se adequar. Engraçado, né? Eu sempre fico pensando nessas coisas diferentes.
Imaginando o que significam. Por que será que ela quer demorar a passar? Qual seria o motivo que faz a Terra exitar em deixar esse dia seguir seu rumo? 

Astrônomos da Nasa dizem que a rotação da Terra está mais lenta, o que geraria uma disparidade entre o tempo real de um dia e o contabilizado pelo Tempo Universal Coordenado (UTC), medida padrão usada em todo o mundo. Daí esse segundo a mais.
Eu vejo diferente. É que hoje decidiremos se condenamos sumariamente à morte (física e social) alguns milhões de jovens brasileiros e a Terra nos dá de presente mais tempo para pensarmos no que está acontecendo.
O que? Como assim?
É isso mesmo que você leu. Hoje nossa Câmara vai votar a redução da maioridade penal;

Não se preocupe, não serão eu nem você os presos. É só pros bandidos. Só quem fizer coisa errada. Quem não deve não teme, correto?
Se aprovada a redução, poderemos dormir tranquilos, sabendo que nós não somos eles. Que esses jovens são monstros e que nós não temos nada a ver com isso. Que eles merecem morrer por que mataram, estupraram, mutilaram. E que eles são menos gente que nós, gente de bem.

Só que não está tudo bem. Apenas o sentimento de justiça (de alguns) estará satisfeito. Caminharemos mais um passo para resolver problemas com resposta inócuas, pagando com sangue de gente. Serão mais mães sem filhos. Mais crianças sem pais. Mais pessoas de carne e osso mutiladas, estupradas, mortas. 
É claro que o nível de criminalidade está absurdo! É claro que não podemos sequer imaginar pensar que está bom como está! É claro que somos todos vítimas de um sistema social que é uma máquina de morte. Mas não nos enganemos. Dos problemas inúmeros do sistema de segurança do Brasil posso enumerar rápido alguns, como polícia desvalorizada, destreinada, muitas vezes corrupta e ineficiente. A guerra às drogas que gerou mais morte que qualquer guerra que pudéssemos imaginar. A gigante taxa de reincidência de nossos presídios, superlotados e sem presença efetiva do Estado. Desafio você a me dizer qual será o problema  resolvido com a redução da maioridade penal.

Hoje à noite teremos um segundo a mais pra pensar, refletir e compreender quem somos e o que estamos fazendo como nossa sociedade.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Azul





Era difícil. Um desafio como nunca antes tinha enfrentado. Eu sabia que naquela quinta não teria jeito. Ela não ia acreditar nas minhas desculpas. É que eu já tinha dito algumas vezes que estava doente e que não podia ir.
E como isso fez você se sentir?
Era como se eu tivesse um destino. Algo inevitável. Uma condenação.
Prossiga.
Eu cheguei, me troquei e fui. Todos me olhavam. Eu sentia isso, que todos me olhavam. Por eu ter faltado os dias anteriores, não tinha aprendido com todo mundo. Eu teria que dar meu primeiro salto na frente de todos. Eu, sem nunca ter saltado, não tinha como escapar.
E como foi?
A gente tinha aula normal e guardava a última meia hora pra ir pra piscina funda. Lá que tinham os trampolins. As crianças subiam no trampolim, enfileiradas. Não tinha como ir pra trás. Uma vez na fila, subindo a escada, não tinha como ir pra trás. Todo mundo subia e pulava. Fazia frio, por causa do vento, e todo mundo preferia pular rápido pra estar de volta na água. No quente da água.
Sim...
Me lembro que via cada um pulando. Cada pulo significava um a menos. Eu sentia frio na barriga, mãos geladas. Queria sair correndo. Queria me esconder. Chegou minha vez e eu fui. Fiquei na borda. Coloquei meus pés, com os dedos pra fora. O vento me fazia tremer, com os pelos arrepiados. Eu vi que minha mãe estava na grade da piscina. Ela sorria. O professor falava algumas coisas, mas eu não escutava. A criança que tinha pulado antes de mim já tinha nadado pra longe.
E então?
Lá em baixo era só azul. Só azul. Eu não conseguia. O medo era demais, não conseguia pular. Todos os olhos em mim e eu não conseguia pular.
O quê aconteceu?
Fui pra casa e nunca mais voltei pra aula. Nunca mais.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Picolé de Limão



Estou muito feliz de compartilhar com vocês que fui publicado na Revista Flaubert! Tenham uma boa leitura sobre o Picolé de Limão. E Cintia, obrigado!
Além disso, Bruno, Guilherme e Luísa, obrigado pela revisão e conselhos!

 
"– Vâmo, mãe?
– Só um minutinho, filha.
– É que já tá em cima da hora...
A mãe arrumava as coisas na cozinha enquanto Susana esperava sentada à mesa. A sua frente estavam a salada, a farofa e o arroz. No canto tinha uma garrafa de Coca-Cola."


http://issuu.com/revistaflaubert/docs/flaubert011

Boa leitura!